Novos testes na Itália sugerem que o faraó egípcio Ramsés 3º teve a garganta cortada por conspiradores. A conclusão veio após uma análise dos primeiros exames de tomografia computadorizada realizados na múmia do faraó.
A tomografia revelou um ferimento de sete centímetros de largura na garganta, um pouco abaixo da laringe. Segundo cientistas, este ferimento provavelmente foi feito por uma lâmina afiada e pode ter levado à morte imediata do soberano.
"Ficamos muito surpresos pelo que descobrimos. Ainda não temos certeza de que o corte o matou, mas acreditamos que sim", afirmou Albert Zink, paleopatologista do Instituto de Múmias e do Homem do Gelo, em Bolzano, no norte da Itália.
"(O corte) Pode ter sido feito pelos embalsamadores, mas isto é improvável", acrescentou.
A causa da morte do faraó tem intrigado historiadores há séculos.
As faixas usadas na múmia não podem ser retiradas para que ela seja preservada. Por isso, historiadores sempre especularam como Ramsés 3º morreu.
Documentos antigos, entre eles o Papiro Judicial de Turim, sugerem que em 1155 a.C. integrantes do harém do faraó tentaram assassiná-lo como parte de um golpe conduzido no seu palácio.
Mas não se sabe se a tentativa foi bem-sucedida. Alguns afirmam que os golpistas conseguiram matar o faraó, enquanto outros relatos da época sugerem que Ramsés, o segundo faraó da 20ª dinastia, sobreviveu ao ataque, pelo menos por algum tempo.
Complô do filho
O Papiro Judicial de Turim relata quatro julgamentos separados e listas de punições para os envolvidos no golpe. Entre estes envolvidos estavam uma das duas esposas conhecidas do rei, chamada Tiye, e o filho dela, o príncipe Pentawere, herdeiro potencial do trono. Segundo o documento, Pentawere, o único dos muitos filhos de Ramsés 3º a se revoltar contra ele, estava envolvido na conspiração. Ele teria sido considerado culpado em um julgamento e cometeu suicídio.
Para tentar descobrir mais sobre os relatos do documento, Albert Zink e sua equipe examinaram a múmia de Ramsés 3º e os restos não identificados de outro corpo, encontrado em um túmulo real perto do Vale dos Reis, no Egito. Acredita-se que este corpo seja o de Pentawere.
Trabalhando fora do Museu do Egito, onde os corpos estão atualmente, a equipe fez tomografias e testes de DNA nas duas múmias.
"Antes, nós não sabíamos muito sobre o destino de Ramsés 3º. As pessoas examinaram o corpo e fizeram radiografias, mas não notaram nenhum trauma. Eles não tinham acesso a tomografias", afirmou Zink.
Pela tomografia, além do corte profundo um pouco abaixo da laringe, os cientistas conseguiram ver um amuleto colocado no ferimento, um olho de Hórus, provavelmente inserido no local pelos embalsamadores durante a mumificação, para a cura da ferida.
Os exames de DNA, por sua vez, mostraram que o corpo não identificado do jovem, que tinha cerca de 18 anos quando morreu, era da família de Ramsés 3º e, provavelmente, o filho dele, Pentawere.
"Com nossa análise genética podemos realmente provar que os dois tinham um parentesco próximo. Eles têm o mesmo cromossomo Y e 50% do material genético é igual, algo típico da relação pai e filho", disse o cientista.
Os pesquisadores também descobriram que o corpo do jovem tinha camadas de pele pressionadas e rugas pouco incomuns ao redor do pescoço, e que seu peito estava inchado. Estas mudanças na múmia podem ter ocorrido depois da morte, mas também podem indicar estrangulamento.
O corpo também não foi mumificado da maneira normal, foi coberto com uma pele considerada impura, de bode, o que pode representar uma forma de punição.
O estudo foi publicado na revista especializada British Medical Journal.
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