O caminho da floresta
Rogel Samuel
O filósofo Martin Heidegger, em Holzweg, escreveu: “Na floresta há certos caminhos que freqüentemente se perdem, recobertos de ervas, no não-traçado. A gente os chama de Holzwege”. “Cada um segue seu próprio caminho, - continuou ele - mas na mesma floresta. Freqüentemente, parece que um assemelha-se a outro. Mas isto é apenas a aparência. Lenhadores e guardas conhecem os caminhos. Eles sabem o que estou dizendo: se empenhar num Holzwege”.
Segundo o velho filósofo, descrente, retirado do mundo na Floresta Negra, todos vão dar em nenhum lugar... Hoje se costuma acusá-lo de nazista. Bobagem. Cheguei a ver a “Floresta Negra”, de longe. É um aglomerado de altos pinheiros na montanha, um lugar de fantasmas.
Talvez ali esteja o sítio apropriado para pensar. Pensar, para Heidegger, é pensar a origem do ser: “Por que há simplesmente o ente e não antes o Nada? Eis a questão.” – escreveu ele na “Introdução à metafísica”. Tradução de Carneiro Leão. “Todos são atingidos uma vez ou outra pela força secreta (da pergunta) sem saberem ao certo o que lhes acontece. Assim num grande desespero, quando todo peso parece desaparecer das coisas e se obscurece todo sentido, surge a questão”. Essa é a questão fundamental da metafísica. Fundamental significa algo sobre o qual uma coisa tem fundamento, tem solo. A pergunta é: Por existe o que existe, e não antes o Nada? Às vezes, creio que temos esses pensamentos essenciais enquanto caminhamos pela floresta. Solitariamente. A floresta é o lugar ideal para o questionamento de tal profundidade. Como disse o poeta: a montanha é alta, mas só o vale é profundo. Eis o caminho que não leva a nenhum lugar. O Holzweg.
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