quinta-feira, 12 de junho de 2008

O MORRO DO ADEUS

O morro do Adeus

Rogel Samuel

Esta é a mais bela cidade. Hoje o sol abriu, o céu está limpo, azul. As montanhas resplandecem, no horizonte, o mar mergulha em sua maravilha. Este é o Rio de Janeiro. O Rio que amo. Não sei morar em outro lugar. Sento-me ao sol. Sol fraco, quase inverno. Sol bom. Leio jornais, as operações policiais no Morro do Adeus. Como alguém pôde dar um nome desse a um lugar? Por isso, o azar. Hoje 120 policiais subiram o morro. Do Adeus. Que fica não muito longe da Igreja da Penha. Os fiéis da Igreja devem ter ouvido o tiroteio. Os santos no altar devem ter estremecido.
Sim, é a guerra, como disse o maior escritor de língua portuguesa, o Padre Vieira: “É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta”.
No Morro do adeus, “é a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras”.
“É a guerra – como a do Morro do Adeus - aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que, ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho, o rico não tem segura a fazenda, o pobre não tem seguro o seu suor, o nobre não tem segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade, o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus nos templos e nos sacrários não está seguro”.
Isto está dito pelo Padre Vieira, no “Sermão Histórico e Panegírico nos Anos da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia”.
No Morro do Adeus há uma guerra.
Há muitos anos. A culpa é do nome: do Adeus.
Não quero morar no Morro do Adeus, da Partida.
Mas no da Chegada, da Vida.

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