sábado, 31 de janeiro de 2009

E se a crise for pra valer?









E se a crise for pra valer?

Rogel Samuel

Quando irrompeu a revolução bolchevique, Assis Chateaubriand escreveu um artigo dizendo que aquela insurreição não ia durar uma semana. Durou meio século. Quando os militares depuseram João Goulart todos nós pensávamos que era só mais um golpe. Durou vinte anos.

E se a crise for piorando, piorando, se rebentar em guerras, em tragédias? Se os oportunistas se aproveitarem do caos e o desgoverno do capitalismo se agravar?
A crise, como as guerras, ninguém pode prever até onde vai. Diziam os antigos que uma pequena chama no capim seco pode incendiar a floresta inteira.

A vida do capital sempre foi incerta. O capitalismo globalizante é imanente ao todo. Se sair desta imanência morre. O ideal do capitalismo, que nasceu no chamado mercado aberto, é conseguir o máximo de objetividade no mínimo de riscos, medo que nunca perdeu devido à característica inicial de jogo de mercado aberto. E é por isso que o Renascimento foi uma época de tantos desastres militares. A Idade Média não foi, passada a época das invasões, a noite da história do ponto de vista da violência e da crueldade, mas sim o Renascimento: Florença assistiu a um banho de sangue. O Vaticano, logo depois de 1500, foi invadido por tropas mercenárias que transformaram a Capela Sistina numa cavalariça.

Foi lá, em pleno Renascimento, que assistimos ao nascer do Poder cruel, quando apareceram as guerras econômicas para garantir os mercados.

Hoje, o que sustenta esse sistema de capitalismo avançado é a necessidade de lucros cada vez maiores, o aumento do capital das empresas, as investidas econômicas, o progresso de sucesso dos “melhores” e dos ‘‘maiores’’, a performance do lucro líquido.

A evolução do capitalismo fez com que a luta entre a razão e o caos entre numa nova fase, na qual triunfa a irracionalidade.

Não mais se valorizam a economia e a poupança, a eficiência, a otimização, a racionalidade funcional. Agora, não crescer é morrer.

Assim, o destino e a desgraça do capitalismo é o de crescer indefinidamente. O capitalismo está condenado a crescer, a um crescimento irracional e ilimitado. O incremento da produção não se coloca mais como problema central da vida social, e uma grande crise de incerteza, desconfiança e credibilidade nasce da idéia de que não mais se justifica historicamente o próprio capitalismo.

Mas o meu medo é a guerra que pode então explodir.

Um comentário:

Ana Pallito disse...

Engraçado, o meu também.

Pensei ser somente um pensamento jurássico.

Abracito