sexta-feira, 21 de maio de 2010
ORFEU
Parte II
13
Adianta-te ao adeus, como se ele assim
ficasse para trás, como o inverno agora.
Pois entre os invernos inverna tão sem fim,
que acima do invernar teu coração demora.
Em Eurídice morras – e subas a cantar,
regressa aonde uma pura relação vos uniu.
Aqui, entre os que passam num reino a declinar,
sê cristal tilintante que o tilintar partiu.
Sê – sabe ao mesmo tempo os termos do não ser,
causa sem fim da tua íntima vibração.
Por esta única vez a venhas perfazer.
Às reservas usadas da natureza aponta,
às surdas, às sem voz, indizível adição,
e acrescenta-te em júbilo e apaga logo a conta.
Rainer Maria Rilker, Elegias do Duíno. Os Sonetos a Orfeu.
Tradução de Vasco Graça Moura
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