sábado, 22 de maio de 2010

ROUBO DO SÉCULO?


Uma janela arrombada e um homem a entrar. Foi na madrugada de quinta-feira, no Museu de Arte Moderna de Paris (MAMP). Balanço: 100 milhões de euros em cinco obras desaparecidas. Um Picasso, um Matisse e um Modigliani, um Léger e um Braque.
Há quem fale no roubo do século. Mas, afinal, o que leva alguém a correr riscos por obras que, de tão conhecidas, dificilmente poderão ser vendidas? Há duas motivações típicas: o pedido de resgate ou a encomenda específica de um privado, interessado numa obra mesmo sabendo que terá de a manter escondida, diz Gonçalo Baptista, director da representação portuguesa da Hiscox, seguradora britânica histórica com um ramo especializado em arte.

Ontem, o MAMP mantinha-se encerrado e em silêncio. Mas Stéphanie Véron, do gabinete de imprensa da Câmara de Paris, que tutela o museu, sublinhava ao PÚBLICO que a introdução no mercado regular "não poderá acontecer, pois as telas estão em bases de dados" de todo o mundo.

É o tipo de roubo do "mercado do deleite pessoal", palavras de investigadores da Polícia Judiciária (PJ) especializados em arte. "Há pessoas dispostas a pagar" e estes investigadores recordam os grandes circuitos de tráfico para lá do espaço europeu.

Para os países árabes e a Ásia, particularmente o Japão, são transportadas obras de valor inestimável. Sem falhas do projecto criminoso, "dificilmente serão encontradas", reconhecem.

Quando o objectivo é o resgate, ele é pedido ao proprietário ou à seguradora - caso haja. Este último cenário aconteceu com A Virgem do fuso, de Leonardo da Vinci, roubada em 2003 do Castelo de Drumlanring, na Escócia. A obra foi entretanto recuperada, numa operação policial em 2007, e retirada da lista dos dez maiores roubos de arte do mundo. Pode ser vista na National Gallery de Edimburgo. Os cinco acusados de tentativa de extorsão - na forma de pedido de resgate à seguradora - foram absolvidos no mês passado por falta de provas pelo Tribunal Supremo de Edimburgo.

Dada a quantidade de obras e o valor que os seguros atingiriam, os acervos dos museus públicos não costumam estar segurados. "Seria incomportável", explica Gonçalo Baptista. "As obras são propriedade da cidade de Paris e não têm cobertura", esclarece Stéphanie Véron em relação às telas roubadas do MAMP - La Pastorale, obra-chave de Matisse, Le Pigeon aux Petits Pois, Picasso, La Femme à l"Éventail, Modigliani, Nature Morte aux Chandeliers, Léger, e L"Olivier prés d"Estaque, Braque.

Segurança

O roubo do MAMP, um dos mais espectaculares de sempre em França, voltou também a levantar a questão da segurança dos museus. Os dados parecem indicar que o ladrão conhecia as fragilidades do museu. Talvez até que o alarme não funcionava desde 30 Março.

"O director do museu devia ser imediatamente despedido", diz Ton Cremers, consultor de segurança citado pelo LA Times. "É impensável que o sistema de segurança não funcione durante dois meses."

Os três seguranças nocturnos não se aperceberam. "Os seguranças não estão constantemente em frente ao ecrã [de vigilância] e, como tudo se passou muito rapidamente, não viram", confirma ao PÚBLICO Stéphanie Véron.

As imagens captadas mostram uma pessoa a entrar, mas a Câmara de Paris não fala sequer sobre o percurso depois de passada a janela. Para além da investigação judicial, arrancou também um inquérito administrativo, "para verificar eventuais carências técnicas e humanas".

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