sábado, 22 de maio de 2010

Quando se viu com água o fogo arder


Quando se viu com água o fogo arder

E o Tejo volver atrás repentino,

E aos altos céus o mar ascender;

Quando o velho voltou a ser menino,


Ali mudando a idade e o ser;

Quando o mais sábio perde o tino

E o ignorante dá provas de saber,

E manso fica o leão ferino –


Talvez o teu desdém então abrande,

Talvez o teu olhar o meu procure,

Talvez o impossível aconteça;


Talvez o doce Deus, que é forte e grande

Este meu mal sem remédio cure,

Talvez o fogo gele e o gelo aqueça.


António Simões, AMOR É UM FOGO QUE ARDE SEM SE VER e outros sonetos

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