terça-feira, 25 de maio de 2010
POEMA DE MARIA AZENHA
meninos do medo meninos sem linguagem
ninguém sabe que os gritos
libertam pérolas de um cativeiro
uma cidade de fogo esplendorosa
caindo a pique
uma infância à porta dos grandes gelos
um nome de inverno com dragões negros
uma palavra acesa nos lábios dos mendigos.
escrevem uma vontade
um navio carregado com os últimos carvões
o vento
a noite
o mar acordado
um pedaço de poesia azul forte. o tempo
acabará por dissolvê-los.
é um grito que gravo nas paredes do meu quarto
um grito de sílabas compactas
procura ainda o fogo
um horror que queima a página.
sopra um vento gelado
um vento insistente
um vento que procura alguém
meninos de pânico do medo
meninos sem linguagem
cantam.
cantam a música que envenena o sangue.
2004,dezembro,25,lisboa
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