Bacellar recebia pensão
Rogel Samuel
“O poeta Luiz Bacelar terá uma pensão
do governo do Estado. A matéria foi votada pelos deputados durante a sessão
desta quarta-feira” disse o Blog do Holanda. Ele é o maior poeta do Amazonas. Fico
muito feliz, ele não recebe nenhuma aposentadoria, mora miseravelmente num
quarto alugado no centro de Manaus, tem 80 anos e é um gênio.
O ex-governador Amazonino era seu
admirador. Um dia fomos, Bacellar e eu, a um concerto no Teatro Amazonas. Na
saída eu disse, curioso: “Vamos esperar a saída do Governador” – “Eu lá quero
saber dessa gente!”, respondeu ele, de má vontade. Mas esperamos do outro lado
da rua. Na saída, Amazonino o viu, atravessou a rua, veio até ele e
estendeu-lhe a mão: “Mestre Bacellar!” Eu disse: “Não foi você quem cumprimentou
o Governador, mas o contrário!”. Ele resmungou qualquer coisa, mal humorado
como sempre.
Bacellar (ele faz questão dos “ll”) é
meio parente de Claudio Santoro. Nasceu em Manaus, 4 de setembro de 1928. Foi
jornalista, portuário, comerciário, professor de Literatura e História da
Música. Participou da criação do Clube da Madrugada (1954), cujo nome sugeriu.
“Frauta de Barro” ganhou, em 1959, o Prêmio Olavo Bilac da Prefeitura do antigo
Distrito Federal, de cuja comissão julgadora faziam parte Manuel Bandeira e
Carlos Drummond de Andrade. Seu segundo livro, “Sol de Feira”, é considerado
por Benedito Nunes um dos mais importantes da literatura brasileira na região
Norte. Membro da Academia Amazonense de
Letras. Escreveu “Quatro movimentos” (Manaus, 1975), “O Crisântemo de cem
pétalas” (Manaus, 1985) e “Satori” (Manaus, 1999, com meu prefácio). Também
escrevi um prefácio para a quarta edição de “Frauta de Barro”.
Leia o “Soneto da Caixa de Fósforos”:
Minha cápsula de incêndios,
meu cofre de labaredas!
Meu pelotão de alva farda
e altas barretinas pretas:
se só num níquel quem vende-os
lhes aquilata o valor,
teus granadeiros da guarda
não se inflamam de pudor!
Fiat Lux do meu verso,
símbolo vivo do amor:
qualquer fricção te incendeia,
te arranca estrelas de dor,
minha gaveta de chamas
com sementes de calor.
("Frauta
de Barro", 1963)
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