terça-feira, 11 de setembro de 2012

Bacellar recebia pensão

Bacellar recebia pensão

Rogel Samuel

“O poeta Luiz Bacelar terá uma pensão do governo do Estado. A matéria foi votada pelos deputados durante a sessão desta quarta-feira” disse o Blog do Holanda. Ele é o maior poeta do Amazonas. Fico muito feliz, ele não recebe nenhuma aposentadoria, mora miseravelmente num quarto alugado no centro de Manaus, tem 80 anos e é um gênio.
O ex-governador Amazonino era seu admirador. Um dia fomos, Bacellar e eu, a um concerto no Teatro Amazonas. Na saída eu disse, curioso: “Vamos esperar a saída do Governador” – “Eu lá quero saber dessa gente!”, respondeu ele, de má vontade. Mas esperamos do outro lado da rua. Na saída, Amazonino o viu, atravessou a rua, veio até ele e estendeu-lhe a mão: “Mestre Bacellar!” Eu disse: “Não foi você quem cumprimentou o Governador, mas o contrário!”. Ele resmungou qualquer coisa, mal humorado como sempre. 
Bacellar (ele faz questão dos “ll”) é meio parente de Claudio Santoro. Nasceu em Manaus, 4 de setembro de 1928. Foi jornalista, portuário, comerciário, professor de Literatura e História da Música. Participou da criação do Clube da Madrugada (1954), cujo nome sugeriu. “Frauta de Barro” ganhou, em 1959, o Prêmio Olavo Bilac da Prefeitura do antigo Distrito Federal, de cuja comissão julgadora faziam parte Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Seu segundo livro, “Sol de Feira”, é considerado por Benedito Nunes um dos mais importantes da literatura brasileira na região Norte.  Membro da Academia Amazonense de Letras. Escreveu “Quatro movimentos” (Manaus, 1975), “O Crisântemo de cem pétalas” (Manaus, 1985) e “Satori” (Manaus, 1999, com meu prefácio). Também escrevi um prefácio para a quarta edição de “Frauta de Barro”.  
Leia o “Soneto da Caixa de Fósforos”: 

Minha cápsula de incêndios, 
meu cofre de labaredas! 
Meu pelotão de alva farda 
e altas barretinas pretas: 
se só num níquel quem vende-os 
lhes aquilata o valor, 
teus granadeiros da guarda 
não se inflamam de pudor! 
Fiat Lux do meu verso, 
símbolo vivo do amor: 
qualquer fricção te incendeia, 
te arranca estrelas de dor, 
minha gaveta de chamas 
com sementes de calor.
 ("Frauta de Barro", 1963)
                                

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