MARLON BRANDO
Rogel Samuel
Quando Al
Pacino saiu de sua primeira cena com Brando em «Godfather», estava pálido e
trêmulo. Perguntaram-lhe o que estava acontecendo com ele. E ele respondeu:
«Você não compreende? Estou contracenando com Deus».
Brando apareceu
no mundo artístico no dia 3 de dezembro de 1947. No Ethel Barrymore Theater, de
Nova Iorque, representando «Um bonde chamado desejo», de Tennesse Williams's.
A sala estava
vendida várias semanas antes da estréia. Parte da alta-sociedade novaiorquina
estava presente. Quando a cortina subiu, viram-se dois homens no palco. Um era
alto, narigudo. O outro logo chamou atenção. Era um rapaz jovem, musculoso,
usava uma camiseta justa. As roupas apertadas exibiam o corpo escultural,
sensual, ao mesmo tempo animalesco e ingênuo. Ele era orgulhoso de sua
virilidade. Que aparecia volumosa nas suas calças jeans apertadas. Ele era
Brando, que representou «com selvagem e primitivo dinamismo», mudando o modo de
representar na América para sempre.
Quando ouvi
que ele morrera, tratei de reler sua «unauthorized» biografia, escrita por
Charles Higham. De onde retiro os fatos.
Curiosamente,
achei o livro num sebo de West Hollywood, ou melhor, no chão da calçada.
Vendido por uma jovem, junto com outros livros e discos. Estava com minha
amiga, a cantora Maíra, e seu namorado, o músico Beto Montero, que moram em Los
Angeles, mais precisamente em West Hollywood, no San Vicent Boulevar, largo e
belo.
Brando era
respeitado como ator até pelos maiores.
Laurence Olivier
apontava-o como o melhor. De Niro, Al Pacino, Dustin Hoffman e Paul Newman
declaravam que Brando era o modelo.
Ele tinha
um mistério. Uns dizem que seu mistério vinha do fato de ele desprezar a
carreira de ator, a arte de representar. «Só faço isso porque preciso de
dinheiro», dizia. Dinheiro que ele distribuía em obras sociais, e que dissipava
e gastava desordenadamente, tanto que falam que terminou pobre e endividado, e
morando num quarto e sala.
Nas telas
e na vida, Brando foi tudo, até ativista político.
Sim, ele era
político. Muito político. Mesmo nos detalhes. Contra a guerra do Vietnã, por
exemplo, a sua crítica maior veio no tom de sua voz nas duas palavras finais do
filme de Francis Ford Coppola,
«Apocalypse now», palavras terríveis, catastróficas, duas palavras shakespearianas, tiradas de
«Hamlet», duas palavras apenas, sim, bastaram duas palavras, ditas pelo Coronel
Walter E. Kurtz, ao morrer:
-
Horror... Horror...
Foi a
mais dura crítica àquela guerra.
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