quinta-feira, 27 de setembro de 2012

MARLON BRANDO




MARLON BRANDO

Rogel Samuel

        Quando Al Pacino saiu de sua primeira cena com Brando em «Godfather», estava pálido e trêmulo. Perguntaram-lhe o que estava acontecendo com ele. E ele respondeu: «Você não compreende? Estou contracenando com Deus».
        Brando apareceu no mundo artístico no dia 3 de dezembro de 1947. No Ethel Barrymore Theater, de Nova Iorque, representando «Um bonde chamado desejo», de Tennesse Williams's.
A sala estava vendida várias semanas antes da estréia. Parte da alta-sociedade novaiorquina estava presente. Quando a cortina subiu, viram-se dois homens no palco. Um era alto, narigudo. O outro logo chamou atenção. Era um rapaz jovem, musculoso, usava uma camiseta justa. As roupas apertadas exibiam o corpo escultural, sensual, ao mesmo tempo animalesco e ingênuo. Ele era orgulhoso de sua virilidade. Que aparecia volumosa nas suas calças jeans apertadas. Ele era Brando, que representou «com selvagem e primitivo dinamismo», mudando o modo de representar na América para sempre.
        Quando ouvi que ele morrera, tratei de reler sua «unauthorized» biografia, escrita por Charles Higham. De onde retiro os fatos.
        Curiosamente, achei o livro num sebo de West Hollywood, ou melhor, no chão da calçada. Vendido por uma jovem, junto com outros livros e discos. Estava com minha amiga, a cantora Maíra, e seu namorado, o músico Beto Montero, que moram em Los Angeles, mais precisamente em West Hollywood, no San Vicent Boulevar, largo e belo. 
Brando era respeitado como ator até pelos maiores.
Laurence Olivier apontava-o como o melhor. De Niro, Al Pacino, Dustin Hoffman e Paul Newman declaravam que Brando era o modelo.
        Ele tinha um mistério. Uns dizem que seu mistério vinha do fato de ele desprezar a carreira de ator, a arte de representar. «Só faço isso porque preciso de dinheiro», dizia. Dinheiro que ele distribuía em obras sociais, e que dissipava e gastava desordenadamente, tanto que falam que terminou pobre e endividado, e morando num quarto e sala.
        Nas telas e na vida, Brando foi tudo, até ativista político.
Sim, ele era político. Muito político. Mesmo nos detalhes. Contra a guerra do Vietnã, por exemplo, a sua crítica maior veio no tom de sua voz nas duas palavras finais do filme de Francis Ford Coppola,  «Apocalypse now», palavras terríveis, catastróficas,  duas palavras shakespearianas, tiradas de «Hamlet», duas palavras apenas, sim, bastaram duas palavras, ditas pelo Coronel Walter E. Kurtz, ao morrer:
        - Horror... Horror...
        Foi a mais dura crítica àquela guerra.

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