A COPA DE JOÃO CABRAL
Em três poemas podemos dizer que João Cabral está presente nesta Copa. O Primeiro é:
ADEMIR DA GUIA
Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.
Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o.
Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário.
O Segundo poema fala do:
O TORCEDOR DO AMÉRICA F.C.
O desábito de vencer
não cria o calo da vitória;
não dá à vitória o fio cego
nem lhe cansa as molas nervosas.
Guarda-a sem mofo: coisa fresca,
pele sensível, núbil, nova,
ácida à língua qual cajá,
salto do sol no Cais da Aurora.
O terceiro poema lembra os Ronaldos europeus:
O FUTEBOL BRASILEIRO EVOCADO DA EUROPA
A bola não é a inimiga
como o touro, numa corrida;
e embora seja um utensílio
caseiro e que se usa sem risco,
não é o utensílio impessoal,
sempre manso, de gesto usual:
é um utensílio semivivo,
de reações próprias como bicho,
e que, como bicho, é mister
(mais que bicho, como mulher)
usar com malícia e atenção
dando aos pés astúcias de mão.
A bola não é impessoal, tem vida e alma. Não é inimiga, mas amante. A bola de futebol tem malícia e manha, tem reações perigosas, e não se usa sem risco. Não. Como a mulher, ou um touro. Não reclame: Cabral era nordestino. Não: o Jogador é um toureiro, que amansa a bola. O time perdedor não se corta com o afiado.
O primeiro poema é o Jogador; o segundo o Clube, o time; o terceiro a bola.
Nenhum comentário:
Postar um comentário