Novo encontro de Brizola e Jango
CARLOS CASTELLO BRANCO
Jornal do Brasil 19/01/1964
O Sr. Leonel Brizola, conduzido pelo General Assis Brasil, voltou à presença do Sr. João. Goulart, na madrugada de sexta para sábado, em Petrópolis. A conversa não alterou a posição da Frente de Mobilização Popular em face do Govêrno, por entenderem os dirigentes esquerdistas que o Presidente da República continua a não inspirar confiança. O Sr. João Goulart parece hoje aos esquerdistas um caso irremediável de duplicidade e indecisão, a tal ponto que só se animariam a colaborar com seu Govêrno na medida em que o Presidente transferisse para mãos esquerdistas o contrôle dos principais postos de comando da vida econômico-financeira.Na reunião de ontem à tarde, no apartamento do Sr. Brizola, no Leblon, a Frente de Mobilização Popular não examinou, em conseqüência, a hipótese de integrar um govêrno de frente única nos moldes preconizados pelo Professor San Tiago Dantas, cujo esquema constatou-se não ser um esquema autorizado ou da preferência do Chefe do Govêrno. Não podendo, contudo, negar apoio a teses e pontos fixados no programa mínimo, a frente brizolista amarrou sua posição a exigências que o Sr. San Tiago não está em condições de cobrir, a primeira das quais é a denúncia dos entendimentos relativos as concessionárias .O Sr. Leonel Brizola, por seu lado, manifestou sua descrença - a qual, de resto, comunicou ao próprio Sr. João Goulart no resultado dos entendimentos financeiros do Govêrno brasileiro com os Estados Unidos e outros países ocidentais. Para o Sr. Brizola, qualquer concessão, nesse terreno, não representará senão migalhas que serão ràpidamente deglutidas, sem o menor reflexo no processo inflacionário. A inflação só se combateria com êxito através de medidas que reduzissem a "espoliação" seja diretamente seja através de empréstimos compensatórios, de Estado a Estado, a juros baixos e prazos longos. E isso os Estados Unidos não estariam em condições de fazer, pela natureza dos seus compromissos internacionais e pelas pressões internas.Considerando, portanto, que o Sr. João Goulart continua incidindo em erros, manobrado por suas contradições íntimas, a Frente brizolista prosseguirá no esfôrço de estimular o que chama o lado bom do Presidente e preparada para opor-se às manifestações do lado mau.A Frente ainda não examinou o decreto de regulamentação da Remessa de Lucros e mantém-se em expectativa cética quanto ao decreto de desapropriações, em tôrno do qual o Sr. Goulart teria dado tantas voltas sem se deter num ponto.Do ponto-de-vista das intenções políticas do Presidente da República, a esquerda considera que o feto golpista, se não foi expelido, estará morto, por inviável. Admitindo que o Presidente teve efetivamente propósitos golpistas para um período já expirante, a esquerda brizolista conclui agora que o Sr. João Goulart "está perdido nos cadernos, sem planos sequer para duas semanas".Quanto ao setor militar esquerdista, começaria a dar sinais de inquietação, por não ver cobertas a contento as etapas programadas da colaboração com o Presidente da República. Um dirigente esquerdista dizia-nos, ontem, a respeito: "O Jango está em casa com uma onça pequena. E ela está crescendo."Do ponto-de-vista do processo eleitoral, a esquerda. coincide com o Sr. João Goulart em manifestar desinterêsse pelo assunto. Não vê o Sr. Brizola, por exemplo, como o regime chegará a 65, com o impacto inflacionário em expansão e o imobilismo e incompetência de um Govêrno que, em dois anos, emitiu seiscentos bilhões de cruzeiros. Como o Sr. Goulart, o Sr. Brizola diz-se impressionado com o "brutal esvaziamento do Sr. Juscelino Kubitschek".
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