segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sedes do governo e do Ministério da Justiça em Trípoli estão em chamas



RIO - Manifestantes que protestam contra Muammar Kadafi tomaram neste domingo a segunda maior cidade da Líbia, Benghazi, disseram testemunhas à "CNN". Eles teriam o apoio de militares que romperam com o governo. À TV estatal do país, o filho do ditador Seif al-Islam Kadafi disse que seu pai vai lutar até que "último homem esteja de pé" e que o Exército vai garantir a segurança da nação a qualquer custo. Ele afirmou ainda temer uma guerra civil e a segregação do país em pequenos reinos islâmicos, se os levantes continuarem.


- Nós não somos a Tunísia ou o Egito - disse.

Seif anunciou, ainda, que o Congresso Geral (equivalente ao Parlamento) vai se reunir na segunda-feira para discutir uma "clara" agenda de reformas, e o governo vai aumentar os salários.

O filho de Kadafi confirmou que os manifestantes tomaram em cidades do leste quartéis, tanques e armas dos militares. Ele disse que é o próprio ditador quem está comandando a reação do Exército contra os protestos.

Apoiadores do governo marcham para Trípoli
Em uma tentativa de desqualificar as manifestações, Seif al-Islam atribuiu as agitações dos últimos dias a bêbados, criminosos e estrangeiros. E, ao falar em guerra civil, disse que a situação do país ficaria caótica, se a população não se juntasse em apoio ao governo. O movimento liderado pelos opositores acabaria com a riqueza do petróleo, completou.

- Isso é uma traição. Cada um de nós quer ser um líder, cada um de nós quer ser um príncipe - afirmou.

Segundo ele, milhares de líbios que apoiam Kadafi estão marchando para Trípoli para defender o governo. Enquanto ele falava, a polícia usava gás lacrimogênio para dispersar centenas de manifestantes na capital, onde tiros foram ouvidos, carros foram incendiados e pedras atiradas contra outdoors com fotos de Kadafi pai. O jovem Kadafi, que foi nomeado em 2009 como coordenador-geral da Líbia e é apontado como herdeiro de seu pai, reconheceu que o Exército cometeu erros durante as agitações porque não foi treinado para lidar com manifestações, mas acrescentou que o número de mortos foi superestimado e disse que eles somam 84. A organização Human Roights Watch informou, no entanto, que já são ao menos 233.

O filho do ditador que está há 41 anos no poder disse que as reformas serão propostas dentro de dias, o que descreveu como uma "iniciativa histórica nacional", e afirmou que o regime está disposto a suspender algumas restrições e a iniciar as discussões para uma Constituição. E se ofereceu para mudar algumas leis, inclusive as relativas à mídia e ao código penal.

No fim da noite de domingo, o chefe da tribo Al-Zuwayya, Faraj al-Zuway, disse que interromperá o fornecimento de petróleo para o Ocidente caso as autoridades não ajudem a depor Kadafi.

Novos ataques a funerais
Dezenas de pessoas foram mortas em Benghazi, num segundo ataque a funerais. Residentes da cidade afirmam que a região virou uma "zona de guerra", com moradores montando barricadas nas ruas e atiradores ligados ao governo atacando manifestantes. Um grupo antigoverno teria usado um carro carregado com explosivos contra forças de segurança. No sábado, as forças oficiais abriram fogo contra manifestantes, durante um funeral. Testemunhas que conversaram com os repórteres da "CNN" caraterizam os confrontos como um genocídio.

De acordo com a TV al-Jazeera, outros manifestantes estavam se dirigindo contra o complexo de Kadafi, na cidade de Al-Zawia, nas proximidades de Trípoli. A emissora disse que o objetivo da multidão é incendiar a instalação.

(Número de mortos na Líbia pode passar de 200)
O ataque ocorreu durante um novo cortejo fúnebre de manifestantes que morreram no sábado. O choque aconteceu quando centenas de pessoas que participavam do funeral, algumas carregando caixões nas cabeças, passavam pelo quartel militar de Alfadeel Abu Omar. Um grupo atirou um veículo contra o muro do quartel, e as tropas abriram fogo contra os que seguiam no cortejo.

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Podemos dizer que o que aconteceu aqui foi um genocídio
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.Os confrontos continuaram ocorrendo em torno do quartel militar e, de acordo com o médico do Hospital al-Jalla, em Benghazi, mais de 200 pessoas já morreram. Testemunhas dizem que a situação é muito grave e chegam a caraterizar os ataques como um genocídio.

- A situação é muito, muito grave no momento. Podemos dizer que o que aconteceu aqui foi um genocídio - relatou uma testemunha à "CNN" por telefone.



O embaixador da Líbia para a Liga Árabe renunciou em meio à agitação no país. Abdel Elhuni disse que não pode participar de um regime que mata inocentes. As manifestações populares contra o regime de Muammar Kadafi, que governa o país há 41 anos, vêm fazendo vítimas desde a última quarta-feira. O governo mantém rígido o controle da comunicação no país e não confirma o número de mortos.


Os distúrbios na Líbia já são considerados os mais sangrentos desde o início das revoltas de Tunísia e Egito, há pouco mais de um mês. Kadafi vem tentando nos últimos anos aproximar a Líbia do resto do mundo, anunciando - em 2003 - que daria fim ao seu programa de armas de destruição em massa. Apesar disso, o regime é acusado de violar os direitos humanos. Segundo o ex-diplomata britânico Richard Dalton, trata-se da maior crise enfrentada por Kadafi.

- Está claro que é uma revolução política. Não é uma questão econômica. É um movimento extraordinário e significante para a Líbia.

EUA devem diminuir representação diplomática
A notícia sobre a violência usada para impedir os protestos estremeceu as já razoáveis relações com os Estados Unidos. A embaixadora americana nas Nações Unidas, Susan Rice, condenou os ataques, dizendo aos líderes afetados pelas revoltas que deixem de resistir às reformas. Segundo ela, o governo de Barack Obama está "muito preocupado" com os relatos de ataques armados.

- Nós condenamos a violência. Nossa opinião é que na Líbia, assim como em toda a região, protestos pacíficos devem ser respeitados.

De acordo com a agência de notícias "Reuters", o Departamento de Estado americano vai começar a reduzir sua representação diplomática no país, oferecendo voos gratuitos a funcionários de embaixadas. A violência fez com que os EUA alertassem seus cidadãos a não viajarem à Líbia.

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