E o Brasil, com uma postura que se quer diferenciar dessa, tem sido uma peça-chave no estabelecimento de um novo paradigma de relacionamento, de solidariedade e de cooperação, com a sua política externa, inédita, que passou a privilegiar o diálogo Sul-Sul. Entretanto, as iniciativas dessa diplomacia com as nações do Sul - muitas delas depauperadas por toda essa expoliação muito bem descrita no texto, não bastam para garantir a sua eficácia. É preciso que nos mantenhamos atentos e críticos ao seu desenrolar, em que o bastão é passado, muitas vezes, para agentes da iniciativa privada. Quem são esses agentes? Eles estão dando continuidade a essas ações, dentro dos valores que estão na origem do diálogo, da cooperação, em prol do desenvolvimento, da distribuição de renda, enfim, do combate efetivo à miséria que tanto aflige essas nações? Quando penso em determinados agentes, e quando leio a respeito de iniciativas desses agentes em solo africano, em que se vê, por exemplo, a plantação de grandes latifúndios de cana com vistas à produção de etanol, em comparação com iniciativas de escala muito mais reduzida de estímulo concreto à agricultura familiar, à transferência de tecnologia agrícola (estas sim, iniciativas cruciais para a virada do jogo), fico um pouco temeroso de que, no final, esse discurso diplomático possa ser um pouco esvaziado, e sobre apenas o de sempre. A sociedade não pode se satisfazer apenas com o brilho, aliás merecido, de um discurso diplomático inédito e promissor de uma nova ordem. Tem que fiscalizar o seu efetivo cumprimento, e pressionar pela correção de eventuais desvios. É bem certo que o etanol é algo que convém ao Brasil (mas convém, exatamente, a quem, e em que medida?), e representa uma opção energética mais limpa. Mas tem também consequências complicadas, pois demanda grandes áreas de terra, que poderiam estar sendo utilizadas para a agricultura familiar (reforma agrária) e para alimentar esses países tão sujeitos às flutuações perversas dos preços dos alimentos, já que são grandes importadores de alimento. Como já citei, existem também as iniciativas corretíssimas, com envolvimento, inclusive, da Embrapa, mas o que eu estou alertando é para a escala comparativa, e para uma possível co-optação desses países para a produção de etanol em larga escala, o que significaria dizer, em prejuízo da própria população local.
2 comentários:
Absolutamente correto.
E o Brasil, com uma postura que se quer diferenciar dessa, tem sido uma peça-chave no estabelecimento de um novo paradigma de relacionamento, de solidariedade e de cooperação, com a sua política externa, inédita, que passou a privilegiar o diálogo Sul-Sul.
Entretanto, as iniciativas dessa diplomacia com as nações do Sul - muitas delas depauperadas por toda essa expoliação muito bem descrita no texto, não bastam para garantir a sua eficácia.
É preciso que nos mantenhamos atentos e críticos ao seu desenrolar, em que o bastão é passado, muitas vezes, para agentes da iniciativa privada.
Quem são esses agentes? Eles estão dando continuidade a essas ações, dentro dos valores que estão na origem do diálogo, da cooperação, em prol do desenvolvimento, da distribuição de renda, enfim, do combate efetivo à miséria que tanto aflige essas nações?
Quando penso em determinados agentes, e quando leio a respeito de iniciativas desses agentes em solo africano, em que se vê, por exemplo, a plantação de grandes latifúndios de cana com vistas à produção de etanol, em comparação com iniciativas de escala muito mais reduzida de estímulo concreto à agricultura familiar, à transferência de tecnologia agrícola (estas sim, iniciativas cruciais para a virada do jogo), fico um pouco temeroso de que, no final, esse discurso diplomático possa ser um pouco esvaziado, e sobre apenas o de sempre.
A sociedade não pode se satisfazer apenas com o brilho, aliás merecido, de um discurso diplomático inédito e promissor de uma nova ordem. Tem que fiscalizar o seu efetivo cumprimento, e pressionar pela correção de eventuais desvios.
É bem certo que o etanol é algo que convém ao Brasil (mas convém, exatamente, a quem, e em que medida?), e representa uma opção energética mais limpa. Mas tem também consequências complicadas, pois demanda grandes áreas de terra, que poderiam estar sendo utilizadas para a agricultura familiar (reforma agrária) e para alimentar esses países tão sujeitos às flutuações perversas dos preços dos alimentos, já que são grandes importadores de alimento.
Como já citei, existem também as iniciativas corretíssimas, com envolvimento, inclusive, da Embrapa, mas o que eu estou alertando é para a escala comparativa, e para uma possível co-optação desses países para a produção de etanol em larga escala, o que significaria dizer, em prejuízo da própria população local.
http://matutei.wordpress.com/2011/02/05/crise-alimentar-grupo-brasileiro-odebrecht-inicia-em-2010-producao-de-acucar-e-etanol-em-angola/
http://matutei.wordpress.com/2011/02/05/crise-alimentar-odebrecht-anuncia-lancamento-da-producao-de-etanol-angolano/
http://matutei.wordpress.com/2011/02/07/dakar-2011-em-dakar-o-fsm-denuncia-a-neogrilagem-e-o-neocolonialismo/
http://matutei.wordpress.com/2011/02/07/dakar-2011-em-dakar-o-fsm-denuncia-a-neogrilagem-e-o-neocolonialismo/
obrigado pelo sempre inteligente e questionador comentario amigo
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