O
espião de Proust
Rogel
Samuel
Há
um momento em que a narrativa de Céleste Albaret se trai e deixa escapar que “o
Senhor Proust”, tão puro e endeusado por ela freqüentou ainda que “5 ou 6
vezes” uma pensão de encontros “de homens” de propriedade de Albert Le Cuziat,
seu antigo protegido.
Esse
Albert fora criado de grandes mansões russas, onde viveu “experiências
engraçadas”. Era “um grande varapau da Bretanha, louro, sem elegância, e olhos
azuis frios como os de um peixe – os olhos de sua alma”.
Um
dos seus patrões, o Conde Orloff, mesmo durante um jantar pedia um penico e
urinava diante dos convidados.
Proust
deve ter conhecido Albert na casa do príncipe Radziwill. Depois Albert saiu da
casa dos outros abriu uma “casa banhos” suspeitíssima na Madaleine, e depois
uma “casa de encontros” num pequeno hotel na Rua de l’Arcade.
Proust,
que era muito rico, presenteou Albert Le Cuziat com móveis e dinheiro para sua
casa de banhos. Mas Albert tinha vários protetores riquíssimos, muito mais
ricos do que Proust.
Proust
usava Albert para colher informações sobre a alta sociedade que aparece na
“Recherche”. Talvez seja Albert um dos modelos de Jupien no seu romance. Proust
também pagava Olivier Dabescat, o diretor do restaurante do Ritz, para receber
informações: “quem tinha jantado com quem, e que vestido usava naquela noite a
sra Tal, e qual tinha sido o protocolo numa mesa ou noutra”.
Albert
Le Cuziat constantemente era preso. Mas
na sua casa de encontros masculinos apareciam políticos e até ministros. Albert
dava os detalhes de seus gostos, e o “Sr. Proust se divertia”.
Quando
queria saber alguma coisa, Proust mandava chamar Albert em sua casa, em seu
apartamento. E era ela, Dona Céleste, quem levava a mensagem, com o cuidado de
só entregar em mãos, e com a recomendação de Albert devolver a carta.
A
casa de encontros tinha duas saídas estratégicas. Albert vivia com um jovem que
se chamava André, mas que não podia receber as cartas. Talvez Proust tivesse
medo de uma chantagem.
Proust
disse para sua governanta Céleste:
“Quando
vou lá, não gosto muito de demorar, em face das operações que faz a polícia.
Não gostaria de aparecer nos jornais de amanhã!”
Portanto,
por um motivo ou por outro, Proust freqüentou aquilo.
E
um dia até pagou para bisbilhotar um industrial masoquista, amarrado à parede
por grossas correntes, a ser flagelado “por um tipo ordinário, até que o sangue
se espalhasse por todos os lugares. E foi somente então que o infeliz teve o
gozo de todos os seus prazeres...”
2 comentários:
Amém!
OBRIGADO PELA LEITURA
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