OTAVIO
IANNI
Rogel
Samuel
Eu soube em 2004 do falecimento de Otávio Ianni
por meio de telefonema de Renan Freitas Pinto. Renan foi seu aluno e amigo.
Escreveu uma tese sobre Florestan Fernandes, que deve ser publicada. Orientada
por Ianni.
Creio que fui um dos primeiros a
anunciar a perda.
E
um dos poucos. Até o momento em que escrevo, não li nada escrito na grande
imprensa a respeito. No dia que
anunciei, dois dias depois da morte, não encontrei nenhuma notícia que me
confirmasse o fato. Temi estar divulgando uma notícia errada, uma mentira. Tive
vontade de telefonar de novo para o Renan, pedindo maiores detalhes.
No dia seguinte, encontrei uma notícia.
No site do MST, o Movimento dos sem Terra. Aí compreendi tudo. Um muro de silêncio cercou o caso.
Logo após li notícia vinda de Cuba (!),
de Havana, a 5 de abril. De um jornal de lá. O título dizia: «Morre um dos
maiores sociólogos brasileiros».
Curioso como o obituário é revelador.
Certa vez, num mesmo dia, morria Henriqueta Lisboa e Orson Welles. A morte de
Welles saía na primeira página do jornal. A de Henriqueta era apenas uma nota
paga no obituário.
E não é uma questão ideológica. A morte
de Pedro Calmon, tido como homem da elite conservadora (o que não concordo,
pois o conheci), não ocupou nenhuma manchete. Ficou no obituário.
Não conheci pessoalmente Otávio Ianni.
Ele faleceu no dia 4 de abril, aos 77
anos. Era professor emérito da Universidade de São Paulo. Foi sepultado na
cidade de Itú.
Professor
em várias universidades brasileiras e no exterior, no México, Estados Unidos,
Espanha e Itália. Nos últimos anos orientava seus alunos e pesquisadores no
Instituto de Filosofia e Ciência Humana da Universidade de Campinas.
Ele
sofria de leucemia havia algum tempo e finalmente estava internado no hospital
Albert Einstein.
Além
de professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), foi professor
emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), docente visitante da
Universidade de Columbia, em Nova York. Teve os direitos políticos cassados
pelo regime militar em 1969, quando passou a dar aulas no Exterior. Voltou ao
Brasil em 1977, tornou-se professor da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP).
Era
marxista. Estudou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade
de São Paulo, onde foi discípulo de Florestan Fernandes.
Escreve
muitos trabalhos, entre os quais: Homem e Sociedade (1961). Metamorfoses do
Escravo (1962); Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil (1963);
Política e Revolução Social no Brasil (1965); Estado e Capitalismo no Brasil
(1965); O Colapso do Populismo no Brasil (1968); A Formação do Estado Populista
na América Latina (1975); Imperialismo e Cultura (1976); Escravidão e Racismo
(1978); A Ditadura do Grande Capital (1981); Revolução e Cultura (1983); Classe
e Nação (1986); Dialética e Capitalismo (1987); Ensaios de Sociologia da
Cultura (1991); e a Sociedade Global.
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