sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sayd Bahodine Majrouh (Afeganistão, 1928-1988)

um libelo contra a repressão

"landays" de exílio e de amor
Meus amigos, qual dos dois escolher?
Luto e exílio chegaram juntos a minha casa.

É Primavera, aqui as folhas crescem nos ramos
Mas no meu país as árvores perderam a ramagem sob o
[granizo das balas inimigas


Adormece em meus olhos
A insónia das minhas noites reduziu-me a pó

Poisa a tua boca na minha
Mas deixa a minha língua livre para falar de amor

Vem, amor, deixa-me abraçar-te
Eu sou a frágil hera que o Outono em breve levará

Esta mulher exilada não pára de morrer
Voltai-lhe o rosto para a terra natal, para que ela exale o seu último suspiro



Sayd Bahodine Majrouh
, A voz secreta das mulheres afegãs - versão de Ana Hatherly,

Notas:
"Até agora desconhecidos do mundo, os “landays” das mulheres afegãs, aparentemente gritos sem sentido, escondem afinal uma linguagem secreta feminina que serve para expressar discursos de ódio, amor, erotismo ou escárnio. São vozes secretas proferidas à revelia e dirigidas aos homens e à cultura masculina dominante.

Sayd Bahodine Majrouh, poeta e profundo conhecedor das formas de arte e de poesia do seu país, o Afeganistão, recolheu estes cantos".

Sayd Bahodine Majrouh
BIOGRAFIA
Sayd Bahodine Majrouh nascido em 12 de Fevereiro de 1928, foi assassinado a 11 de Fevereiro de 1988 em Peshawar, no Paquistão. Doutor em Filosofia pela Universidade de Montpellier, decano da Faculdade de Letras de Kabul, foi também governador da província de Kapiça. Após a invasão soviética do Afeganistão, exilou-se no Paquistão onde fundou o Centro Afegão de Informação, que difundiu no mundo inteiro reportagens e análises sobre a resistência.

(Enviado por Amélia Pais)

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