segunda-feira, 8 de julho de 2013

KATMANDHU

(FOTO DE R. SAMUEL A DEUSA TARA, EM KATMANDHU)

    Crônica de Rogel Samuel 
KATMANDHU
            Fosse o câmbio, nunca tão fácil ir a Katmandhu.
            Graças aos guerrilheiros maoístas.
            Quando lá estive, pela primeira vez, já lá estavam eles, mas o antigo rei, assassinado, controlava o Exército.
            Quando voltei, o Partido Comunista assumira temporariamente o parlamento. Não eram maoístas, que não têm partido político. Os maoístas são uma espécie de 'Sendero Luminoso' asiático. O Sendero era maoísta, antes do Fujimoro os exterminar.
            Katmandhu, uma latrina. O lixo se acumula nos cantos,  queimado por populares.
            Apesar dos Himalayas, a poeira se levanta, com calamitosas doenças epidêmicas.
            Muita fumaça, água poluída (nas torneiras não se escovam os dentes, só com água mineral).
            Mas, apesar de tudo, é adorável ir ali no Losar, que é o ano novo tibetano (de 1 a 9 de março, este ano).
            Boudanath, cujo cartaz tenho na frente enquanto escrevo, cidade-bairro tibetana ao redor da Estupa de Jerukansor, aparece em 'O Pequeno Buda'.
            Jerukansor quer dizer: 'tudo o que você pedir ali será atendido'.
            Na primeira vez, me hospedo no Stupa Hotel.
            Os gerentes me olham com desconfiança. Pensam que sou traficante de droga, porque venho da América do Sul.
            Até ali a viagem tinha sido um desastre.
            Em Amsterdã, me impuseram pesada multa por excesso de bagagem (levava a biblioteca de um amigo tibetano, o monge tibetano Lobsang Tenpa).
            Em Nova Delhi, passo a noite num recinto público.
            As autoridades locais me proibem de permanecer no interior do Aeroporto, pois só viajaria no dia seguinte pela manhã (fui culpado, deveria ter mentido, no desembarque, dizendo que estava em trânsito).
            No dia seguinte, em Katmandhu, subi a montanha, ao  monastério de Kopan,  para entregar a preciosa carga.
            Almocei com o lama, passei a tarde ali e em outros sítios históricos.
            Voltei à noite, no mesmo táxi.
            Devido àquela ostentação de riqueza ganhei a fama de 'o colombiano' (o táxi, baratíssimo).
            No hotel só me chamavam de 'o colombiano'.
            Meu relógio dourado, fabricado na Zona Franca de Manaus, era visto como um  Rolex de ouro (um inteiro dia de táxi não saía mais que 10 dólares...)
            Os primeiros dias em KTM são terríveis.
            Os demais, melhores.
            Depois, você se apaixona pela cidade. Não quer mais voltar.
            Acontece de tudo.
            Desde as elevações espirituais, até as delícias gastronômicas e outras, samsáricas
            Vi tudo, fiz de tudo, fiquei quase três meses naquele ano de 93.
            O mais interessante foi uma festa de casamento.
            Ao lado da Lótus Guest House, há uma rica casa nepalesa que oferecia ruidosa festa de casamento.
            Como não ia mesmo conseguir dormir, resolvi olhar do lado de fora.
            Os donos da casa me viram.
            Convidaram-me para entrar.
            É auspicioso oferecer alegria, comida e bebida a muitos convidados importantes, durante um casamento.
            Significa que o casal será rico e feliz.
            Todos  estavam em casacos nepaleses de brocado, ou com paletó e gravata.
            Eu de pijama, com um casaco por cima.
            Deviam pensar que era a roupa típica de meu país de origem.
            Muita gente comia bebia dançava falava ria.
            Mas a dança era masculina.
            As damas sentadas ao redor, aplaudindo e rindo.
            Os maridos, completamente embriagados, dançando entre si, com eles mesmos, rebolando em requebrados dos quadris e com as mãos em exóticas danças.
            Em KTM não há casal na rua: as moças e os rapazes andam separados.
            Em pares.
            Abraçados.
            Mas separados.

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