A tarde ia desaparecendo. Um calor brando, silencioso.
Valquíria aparece. Jovem. Máxima. Ela aparece jovem. Reencontro a Valquíria
adolescente na Valquíria de hoje. Estou decididamente envolvido na sua
substância material. Desde sempre nos envolvemos, nos identificamos. Ela vive, dança
no meu ser, à vontade. Tento compreender isso, tento a resposta. Sua voz vem de
longe, do tempo em que eu era muito jovem. Sua voz... Quando se convive,
durante toda uma vida, mesmo com intervalos, com essa voz, não se pode
sobreviver sem ela. Que se ama sempre essa voz. Estou sempre prestes a
procurá-la, de novo. Por isso nunca a liberto. Sempre fui a ela, onde ela
estiver. Seu timbre sempre adquire o som de um fundo que conheço, mas não sei
dizer de onde. Agora é o tom do amor desfeito. Refaço. Tento. Nós corremos
paralelos, juntos, nos unimos em tempos sucessivos. Agora, como depois. Como
sempre antes de sempre, depois, depois de depois. Nós nos deitávamos, era a
comunhão, ela tão presente, como se fosse ela o mais sólido e absurdo elo da
vida. Sem ela, vivo em abstrato. O bom contato de seu corpo, de sua
materialidade, de seu cheiro moreno, de seu calor que eu podia sentir...
Estrada. Depois,
a estrada. As palmeiras, eucaliptos, sei que posso ficar até o sangue correr de
meus dedos, aqui, a falar e a repetir sobre ela, a interminável, a inesgotável.
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