sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

ROGEL SAMUEL: A HISTÓRIA DOS AMANTES (reescrita)


A tarde ia desaparecendo. Um calor brando, silencioso. Valquíria aparece. Jovem. Máxima. Ela aparece jovem. Reencontro a Valquíria adolescente na Valquíria de hoje. Estou decididamente envolvido na sua substância material. Desde sempre nos envolvemos, nos identificamos. Ela vive, dança no meu ser, à vontade. Tento compreender isso, tento a resposta. Sua voz vem de longe, do tempo em que eu era muito jovem. Sua voz... Quando se convive, durante toda uma vida, mesmo com intervalos, com essa voz, não se pode sobreviver sem ela. Que se ama sempre essa voz. Estou sempre prestes a procurá-la, de novo. Por isso nunca a liberto. Sempre fui a ela, onde ela estiver. Seu timbre sempre adquire o som de um fundo que conheço, mas não sei dizer de onde. Agora é o tom do amor desfeito. Refaço. Tento. Nós corremos paralelos, juntos, nos unimos em tempos sucessivos. Agora, como depois. Como sempre antes de sempre, depois, depois de depois. Nós nos deitávamos, era a comunhão, ela tão presente, como se fosse ela o mais sólido e absurdo elo da vida. Sem ela, vivo em abstrato. O bom contato de seu corpo, de sua materialidade, de seu cheiro moreno, de seu calor que eu podia sentir...

 

 Estrada. Depois, a estrada. As palmeiras, eucaliptos, sei que posso ficar até o sangue correr de meus dedos, aqui, a falar e a repetir sobre ela, a interminável, a inesgotável.

 

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