A sombra da romã, de Maria Azenha
Rogel Samuel
A arte minimalista é daquelas que mais me atrai. Creio que é da nossa época o teor dessa estética - a minimal. Somos agora seres econômicos, concisos, precisos, e tentamos viver o simples. O ideal seria habitar na cabana de palha ao pé da montanha, ou na praia isolada e azul - e se possível só.
Azenha conseguiu isso no seu livro, dar só o essencial, como nos versos de seu poema:
O teu rosto adormeceu no meu, em flor.
Nele pousou o nevoeiro.
A propósito de "A Sombra da Romã" - um Inédito em "CASAL DAS LETRAS"
Inédito
O TORMENTO DA NEVE
Numa cadeira de rodas que não rodava
Vi uma mulher coroada por uma montanha de neve.
Na relva do tapete uma criança de joelhos
Com um pássaro morto no centro da cabeça.
É ela que escreve esta página suja de terra
Com pancadas vivas de violência de sangue e uma gazela.
Não sei se Deus estava presente ou chorava
Mas as janelas sem estrelas e esta beleza sem nexo
Gritaram ouro cortado entre os dedos e o sexo
Cuspiram enxofre para dentro do poema.
Maria Azenha
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