terça-feira, 26 de junho de 2012
LEILA MÍCCOLIS
TEATRO AMAZONAS EM LIVRO
Por Leila Míccolis
Peço licença a Rogel Samuel para me apossar deste espaço dele, e assinar a coluna de hoje. É que Blocos tem muito orgulho de receber, em livro impresso, o Teatro Amazonas, primeiramente publicado por nós aqui no portal, em vinte e dois capítulos inéditos, durante o período de 24/12/2007 a 25/10/2008. Agora, em 2012, o romance sai publicado pela Editora da Universidade Federal do Amazonas, com capa de Edna Keron de Oliveira da Costa e apresentado por mim, com muito orgulho.
A versão on line recebeu inúmeros comentários, e transcrevo um deles, o de Clarisse de Oliveira — figura também com um passado histórico, filha de Clarice Índio do Brasil — que em sua infância possuía aquarelas do artista plástico De Angelis, responsável pela pintura interior do Teatro Amazonas. Clarisse tem outros afetivos referenciais que a ligam ao Teatro Amazonas, como revela o seguinte texto, de 2008::
"Hoje, li o último capítulo da história do Teatro Amazonas, em Manaus. Fascinante e retém nossa atenção o tempo todo, pois Rogel Samuel intercala a narração com a descrição das personagens, sempre focalizando sua mixagem racial dos primeiros séculos da Vida do Brasil. Afora a mixagem racial, os atritos livres das personalidades em seu desempenho na política do Estado do Amazonas, surgindo da periferia da Mata Amazônica e se baseando nos reflexos que chegavam no Brasil, da Europa, principalmente de Paris, onde a roupa mais fina era enviada para ser lavada lá. A pintura ornamental de teto e paredes, de que herdei umas quatro aquarelas, me levaram a imaginar a beleza barroca da oldura do palco do Teatro. Na minha infância, a mãe de meu padrinho Gaspare Cornazzani, que se chamava "Altiniana" (...) chamava a atenção no Teatro Amazonas, em seu camarote, exibindo beleza físico e luxo em vestimenta e joias. Assim, na embocadura de uma selva tropical, uma construção meio Paris e barroco italiano, tem agora um livro com a história de sua construção, narrada de maneira fascinante pelo escritor Rogel Samuel, natural de Manaus".
Transcrevo a seguir um trecho da entrevista, também constante do livro, concedida pelo autor a Dilson Lages Monteiro, do Jornal "Diário do Povo" de Teresina/Piauí, a cerca da preciosa pesquisa empreendida por Rogel. Escreve o jornalista:
"Para construir o perfil dos personagens, Rogel realizou vasta pesquisa histórica, vasculhando desde os livros clássicos sobre a história amazonense aos estudos genealógicos. Até mesmo cemitérios o autor visitou durante a pesquisa. Mas foi na Biblioteca Nacional que encontro preciosidades, desconhecidas dos piauienses e mesmo de historiadores amazonenses, e, baseado nelas, deu fôlego à obra".
Deixemos agora que o autor explane, de viva voz, sobre seu processo de criação e também sobre sua primeira intenção, que não foi a de escrever especificamente sobre o Teatro Amazonas:
"A minha intenção inicial era escrever um romance sobre Eduardo Ribeiro, governador do Amazonas. Cheguei a escrever vários capítulos que se perderam. Mas dele pouco se sabe. Foram decisivas algumas fontes, como os livros de Fileto Pires Ferreira e Eduardo Ribeiro, que quase ninguém leu, além de Mário Ypiranga e Genesino Braga. Fiquei impressionado cm o livro de Fileto "A verdade sobre o caso do Amazonas", muito bem escrito. Descobri que, apesar de só governar 19 meses, foi o grande governador de sua época e de todos os tempos no Amazonas. Descobri também que ele é esquecido e injustiçado. Thaumaturgo foi um herói nacional, mas reconhecido ainda hoje. Governou o Piauí e o Amazonas. Não foi esquecido, como Fileto. Entretanto, não há uma rua ou escola em Manaus com o nome deles. E pouca gente sabe que foi Thaumaturgo quem traçou o plano da cidade de Manaus. O livro estava muito tempo dentro de mim, e há muitos anos precisava sair de mim. O viés é pessoal. É um ajuste de contas comigo mesmo, está nas minhas entranhas, no meu sangue" (in primeira orelha do livro).
Este é um romance histórico diferente, em que o personagem principal não é um casal de enamorados, mas sim a edificação de um dos maiores e mais exóticos teatro do mundo, com suas histórias de bastidores tão interessantes e que nós brasileiros infelizmente desconhecemos. Ou melhor: desconhecíamos, porque a partir deste momento é dupla a oportunidade de você ler a obra de Rogel: ou em Blocos Online, ou em livro. E nem se diga que a leitura é de interesse apenas regional: em meu blog pessoal, o texto que postei em 26 de outubro de 2008 sobre o romance Teatro Amazonas mantém-se até hoje em primeiro lugar como o mais lido de todos (já quase quatro anos de liderança absoluta) — o que atesta, ao contrário do que se propala, o grande interesse por parte dos brasileiros pelas narrações e construções de nosso país.
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