Inverno antigo
Rogel Samuel
É um pequeno poema este de Salvatore Quasimodo. Com o apoio da tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti, ensaio outra tradução:
Desejo tuas mãos claras
na penumbra dessa chama:
sabiam a carvalho, rosas,
ou morte. Antigo inverno.
Pássaros buscavam milho
e eram súbito feitos neve;
como palavras.
Um pouco sol, um halo de anjo,
e logo a névoa, as árvores,
e nós, como o ar da manhã.
O
poema é obscuro, difícil, como quase tudo que Quasimodo escreveu. Ele
era um poeta hermético. As mãos estão em chama, mãos de desejo, mãos
secretas, aqueciam no inverno, com ungüento perfumado de madeira e flor.
Ou morte, um cheiro de morte. Fora, os pássaros aparecem, vem comer. O
frio a neve as palavras. Amanhece? Um pouco de sol sobre as árvores,
vence a névoa. E nós? Como o ar da manhã, de manhã o sol é um anjo.
Poema difícil, porém belo. Cheio de sugestões, são lembranças? Imagens
que passam, em flashes, em cenas desconhecidas, misturadas, compostas
como a realidade.
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