quinta-feira, 5 de junho de 2014

FALO DAS RUAS

"Algum Sentido "

Não falo das torres altas, das torres engradeadas,
isolado nas alturas, olhando tudo distante,
sem a exuberância, sem os detalhes insignificantes
que são as grandezas trágicas da vida...

Não estou longe, não sou reflexo, não sou eco,
não sou um som perdido que ninguém sabe a origem...

Sou a boca que grita, a boca que pronuncia o som,
a mão que se eleva, não o gesto irreconhecível,
o coração que bateu, não a pulsação anônima,
a alma que luta, não o espírito que se acovardou
num canto introvertido...

Não falo do meu quarto fechado onde me tranquei a sete chaves
para não ouvir a algazarra dos tempos,
e a agitação das ruas,
nem receio descer os degraus que me levam à multidão
porque em verdade a nossa revolta não tem degraus!

Não temo as suas explosões porque seus estilhaços nunca me ferirão
nem atingirão nunca os que tiverem coragem de ser justos
e os que não se atropelam com a própria consciência...

Falo das ruas e das praças, estou perdido no meio da multidão,
não tenho medo porque eu sou ela e porque ela está em mim,
seu corpo fala pela minha voz na hora da compreensão
sinto a responsabilidade de falar em nome de seu destino...

Não me fechei na torre alta, isolado e indiferente,
meus pés estão no chão sei que
todas as torres altas, ante a avalanche dos tempos
se destruirão...
    
( Poema de JG de Araujo Jorge do livro
- Antologia Poética Vol. II - 1a ed. 1978 )


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