quarta-feira, 4 de junho de 2014

O POETA DO POVO

O POETA DO POVO
Gilberto Braga de Mello
Fui à Brasília pela primeira vez em 1980. O Brasil ainda vivia apeado pela ditadura militar. Metido até o pescoço no movimento estudantil, quis conhecer o Congresso Nacional e arriscar ver pessoalmente os grandes líderes da oposição ao regime. Mas no Salão Verde da Câmara dos Deputados, alguém me puxou pelo braço: – esse você não esperava conhecer, mas vai gostar! Então abordou um senhor que saia do Plenário: – Deputado, o Gilberto é seu leitor, recita seus poemas de cor.

Assim conheci um dos poetas mais lido do Brasil. E agora me ocorre que talvez ali, naquele momento, eu também tenha conhecido o primeiro acreano na minha vida. Surpreso, ouvi sua apresentação: – Muito prazer, JG de Araújo Jorge.

Jorge Amado, um dos escritores mais querido, lido e amado pelos brasileiros, não raro era questionado por ser lido por milhares, não apenas por meia dúzia, maldição que castiga grandes escritores. Muitos críticos opõem popularidade e qualidade. Um preconceito besta.

JG de Araújo Jorge foi na poesia como Jorge Amado nos romances. O povo leia o que ele escrevia, recitava seus poemas, sonhava com suas musas e se encorajava com suas ideias.
Começou publicando poemas nos jornais do Rio de Janeiro, no começo dos anos 1930. Incomodou o Estado Novo de Getúlio Vargas e acabou na cadeia.

Sua poesia romântica encantou gerações. A esperança viva nos seus versos corresponde a uma atuação política coerente. Eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro em 1970, 1974 e 1978 – estava lá na Câmara Federal em 1980, quando a musa do improvável me deu o privilégio de conhecer o Poeta do Povo.

Falecido no Rio de Janeiro, em 1987, sua poesia tem força para sobreviver ao esquecimento da critica e a negligência do mercado editorial. Impressiona sua presença na internet. É dos mais procurados nos sebos e site de livros usados.

JG de Araújo nasceu em 20 de maio de 1914. Agora é o seu centenário e a Academia Acreana de Letras quer o resgate da sua importância. O presidente Clodomir Monteiro iniciou esforços para tornar 2014 o Ano JG de Araújo Jorge.

A motivação da Academia é inconteste: o poeta que encantou o Brasil era um acreano do pé rachado. Um menino nascido José Guilherme, lá em Tarauacá.


> Artigo publicado originalmente em Jornal A Gazeta do Acre (21.05.2014)

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