segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cada ser humano é uma estrela





Cada ser humano é uma estrela

Rogel Samuel


"Como explicar que aquele pianista que morre de medo antes de entrar em cena depois seja possuído de grande e jubilosa alegria?", pergunta Alain. Talvez porque seus dedos não sabem o que é ter medo, e o medo é um fantasma da sua cabeça. Esse é o sentido do "treinamento" do corpo.

Em tudo podemos nós treinar. Eu escrevo diariamente como "treinamento", como um pianista que depende de várias horas de estudo por dia para poder estar sempre em forma: Quando se senta ao piano, "naturalmente" seus dedos sabem o que fazer e aquilo se torna para ele uma verdadeira natureza, ele naturalizou e se integrou com o piano. Nós somos capazes de muitas coisas desde que treinemos. Como os lutadores treinam e se adestram. E como há uma integração do corpo com a mente, vencemos alguns obstáculos.

Este é o sentido da disciplina.

A disciplina não é uma canga rígida, que estrangula o corpo. Ela permite que nos libertemos constantemente de nós próprios, disse Dugpa Rinpochê.

Creio que sem alegria não há disciplina. Sem prazer.

O maior obstáculo é aquela sensação enorme de um “eu” que há em nossa mente.
O “eu” é um fantasma que nos segue como uma sombra.

Quando começamos a nos exercitar, esquecemos temporariamente do “eu”.
Aí somos felizes.

Os conflitos, o ódio, a violência, provêm de um sentimento enorme de um eu ferido, nascido de desconhecimento de si mesmo, que gera dor e confusão, disse o Rinpochê.

“Não somos nada, tudo é o que almejamos”, escreveu mais ou menos Heidegger na Floresta Negra.

“Não duvides do teu próprio esplendor interior. Cada ser vivo é uma estrela”, disse Dugpa Rimpochê.

São pensamentos contraditórios. Mas sem a contradição não damos conta da dialética da realidade, diz o materialismo histório marxista.

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