sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Punições e castigos


Punições e castigos



LUCILENE GOMES LIMA







Desse modo, punições e castigos físicos são circunstâncias comuns na ficção sobre a borracha. Exercer algum tipo de violência sobre o seringueiro é uma forma de o seringalista expressar sua autoridade e fazer-se respeitado. Expressando esse poder sem limites estabelecido no seringal, o narrador do romance memorialista Arapixi comenta: “O patrão se faz respeitar e obedecer por sua menor ou maior perversidade, pela grandeza de seu coração, por sua autoridade moral, por sua bondade de alma, por seus sentimentos humanos, pela grandeza de seus gestos, ou pelo horror de sua ação sanguinária. É um homem que na planície varia na conformidade do ‘centro’ na vulgaridade dos hábitos, na conduta da freguesia, sem peias, sem escrúpulos, sem formalidades”. (21).

Dos instrumentos utilizados pelo seringalista como forma de punição, o tronco figura como o mais referido e o mais abominável tanto que leva o negro Tiago, personagem de A selva, a pôr fogo no barracão como ato de revolta contra o patrão que usara desse expediente de tortura contra os seringueiros que haviam tentado fugir do seringal. (22).

A utilização do tronco nos seringais estabelece uma curiosa relação dos hábitos do mundo do seringal como os da sociedade patriarcal escravista. Para Tocantins, ambos os contextos se assemelham, a começar pela economia baseada na monocultura, com a diferenciação de uma ser agrícola e a outra extrativa. O patriarca representado na figura do seringalista seria outro ponto de contato. Também o barracão do seringal, apesar de apresentar aspecto mais tosco, guardaria semelhança com as casas-grandes dos engenhos de açúcar do Nordeste. Sobre o ciclo da cana de açúcar e o da borracha, o autor pondera: “[...] Dessemelhantes em forma e grau, mas semelhantes na essência comum do patriarcalismo, a civilização da borracha aproveitou muitas das constantes culturais daquela, naturalmente adaptando-as às realidades do meio amazônico, num interessante experimento de assimilação”. (23).



Lucilene Gomes Lima - "FICÇÕES DO CICLO DA BORRACHA NO AMAZONAS". Estudo comparativo dos romances “A selva” (FERREIRA DE CASTRO), “Beiradão” (ÁLVARO MAIA) e “O amante das amazonas” (ROGEL SAMUEL), Editora da Universidade do Amazonas, 2009. 240p. ISBN 978-85-7401-458-6. Solicitações: lucileneglima@bol.com.br


21) Adaucto de Alencar FERNANDES, Arapixi: cenas da vida amazônica, p. 229.
22) José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva, p. 304-305.
23) Leandro TOCANTINS, Formação histórica do Acre, v. 1, p. 156.

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