domingo, 8 de março de 2015

Hino á Tarde



Hino á Tarde

BILAC


Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas, 
Alva! natal da luz, primavera do dia, 
Não te amo! nem a ti, canícula bravia,
Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas!
Amo-te, hora hesitante em que se preludia 
O adágio vesperal, - tumba que te recamas 
De luto e de esplendor, de crepes e auriflamas, 
Moribunda que ris sobre a própria agonia!
Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre
Os primeiros clarões das estrelas, no ventre, 
Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,
Trazes a palpitar, como um fruto do outono, 
A noite, alma nutriz da volúpia e do sono, 
Perpetuação da vida e iniciação do nada.

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