A ESTRADA
Rogel Samuel
Na
estrada sinuosa o verde das montanhas coloca uma barreira horizontal. No alto,
o céu brilha com seu cristal fosco. A Mantiqueira. Passamos pela divisa dos
Municípios de Delfim Moreira com Venceslau Brás. Os rios do Brasil estão todos
poluídos? Dia virá em que vamos ter falta de água potável. O Rio Sapucaí está
ameaçado pelo lixo. Os bois, no grande pasto, parecem em paz. À margem, um
caminhão tombado, como um gigante morto. Leio na Folha um poema de Guillén,
traduzido por Thiago de Mello. As estrofes e os versos se embaralham na minha
mente. Guillén era um dos poetas preferidos pelo Farias de Carvalho, quando
nosso professor de literatura no Colégio Estadual. Farias aparentemente não
dava aula. Quando dava, era um ditado teórico. Mas não conheci melhor
professor. Mais tarde fui aluno de Mestre Alceu etc. Mas foi Farias que nos fez
amar a literatura, não poder passar sem ela. A aula era uma conversa. Um
descompromisso. Farias deixou escola. Eu já vinha querendo ler poesia, depois que
encontrei Camões num livro de primeiro grau:
Oh!
lavradores bem-aventurados,
se
conhecessem seu contentamento.
Aqueles versos cantam agora, vendo os
bois no pasto. Até hoje ouço sua gargalhada, a voz empostada, os olhos graúdos,
as mãos teatrais. A estrada sinuosa e verde continua. Um dia chegarei ao fim.
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