NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE
SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL
Os fundamentos substanciais daquelas regras
anteriores ao pós-modernismo, se as penso pela ótica de Gianni Vattimo , àquela
época, não poderiam ser criticados e, muito menos, reformulados, ou mesmo
refundamentados, pois eram fundamentos considerados absolutos, consagrados,
inquestionáveis. Assim, a ficção do século XX final, entrópica, sinalizou-se
como a ficção do não-fundamento. Aqui, repenso aquela informação perfeita,
artística, sucinta, citada páginas atrás: “Como nessa matéria nada é absoluto”.
Esta afirmação endossa o meu texto reflexivo-interpretativo, sobre o
diferenciado narrador pós-moderno/pós-modernista de Segunda Geração, o
narrador-personagem Ribamar de Sousa, neste meu texto teórico-interpretativo,
conscientemente fragilizado, porque se coloca nitidamente como pioneiro (e que,
certamente, sofrerá repetidas investidas, contrárias, das hostes intelectuais,
brasileiras ou não, proprietárias das eternas verdades teórico-críticas
institucionalizadas).
Contudo, voltando à ficção do século XX, entrópica,
reafirmo, pela minha própria forma de entender o pensamento de Gianni Vattimo,
que esta se sinalizou como a ficção do não-fundamento. Os
ficcionistas-criadores de uns anos para cá não instituíram os chamados
fundamentos corretos, não estabeleceram verdades absolutas, negaram uma
disposição e distribuição do fazer narrativo pelo modelo tradicional,
desenvolveram um diferenciado exame da realidade de suas propostas ficcionais.
Esses ficcionistas do século XX, extremamente não-convencionais, procuraram uma
adequação ao estado entrópico de suas realidades existenciais. Já que não
possuíam mais a confiança e firmeza do substancialmente instituído, valeram-se
de suas dúvidas diárias, vazias, desenvolvendo gradativamente suas lutas
titânicas com as palavras ainda não-substancialmente formalizadas.
A verdade do narrador-personagem Ribamar de Sousa
foi o estabelecimento da não-verdade do criador ficcional
pós-moderno/pós-modernista de Segunda Geração, pois este não possuía, naquela
altura, um fundamento histórico sobre os Numas, já que estes provieram da
dimensão mitológica.
Mas, o que é a verdade ficcional nesta narrativa,
especialmente? A anterior verdade instituída (sobre “coisa” de difícil
explicação), apresentada sublinearmente pelo narrador-personagem Ribamar de
Sousa, já fora asfixiada pelo “rio deserto” (plano sem palavras conceituais,
amorfo), inserido na fábula númica do narrador diferenciado. O momento
sócio-existencial de sua realidade próxima ainda não estava a permitir-lhe
novos fundamentos ficcionais. A entropia narrativa, à moda da primeira fase
pós-modernista, ainda teria de se fazer presente em seu relato. Entretanto,
mesmo repudiando as exigentes “verdades” instituídas e se debatendo em uma
realidade enrolada e espetacularmente diversificada, o ficcionista
pós-moderno/pós-modernista de Segunda Geração conformou um outro rumo ou nova
sondagem para explicitar a sua verdade ficcional. E esta nova conformação
respaldou-se na incerteza da própria conformação, na luta constante para se
chegar a um bom termo explicativo-ficcional.
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