segunda-feira, 31 de outubro de 2011

ANIVERSÁRIO DE DRUMMOND




DRUMMOND

ROGEL SAMUEL

Lembro-me de Drummond. Um dia, quando éramos alunos da FNFi, e como estudássemos sua obra, conseguimos que Drummond aceitasse a vir, na nossa sala, para conversar. Ele exigiu que ninguém soubesse, e que pudesse entrar pela porta dos fundos! Incrível: um dos maiores poetas  entrou pela porta dos fundos da nossa faculdade de letras. Mas Drummond parecia um funcionário público (que era), conversando. Trazia um guarda-chuva preto e vestia um terno cinzento. Sério, magro, seco, quase mal humorado. Disse, por exemplo, que perdia belas imagens e versos que lhe ocorriam no caminho de casa para o trabalho. Parece que ele andava de ônibus, de Copacabana para o Centro, no Rio. Quando eu lhe perguntei por que ele não tinha consigo um caderninho de notas, ele respondeu que "não ficava bem alguém ficar escrevendo". Lembro-me de que nossa professora, D. Cleonice Berardinelli, que ia passando no corredor, o viu e, espantada, logo entrou na sala. Drummond, o gênio da nossa poesia, discorria singelamente, prosaicamente sobre sua obra. Nenhum brilho, nada de demonstrações de grandeza. Disse: "não sei por que fazem tanto barulho pela minha poesia, eu não vejo nada de especial nela" (as palavras eram mais ou menos assim). Disse horrores sobre o verso "no meio do caminho tinha uma pedra". E no fim, quando se despediu, eu lhe pedi um autógrafo. Ele logo se irritou comigo ao ver, na folha de rosto do seu livro, após o seu nome, que eu tinha escrito, a mão: (1902 - ..... ). "Esse aqui já está esperando a minha morte!", disse. A última vez que o vi, foi em Copacabana. Eu bebia um cafezinho num botequim do Posto Seis que existe até hoje, quando ele passou. A cabeça pensativa, meio cabisbaixo. Eu fiquei extático,  boquiaberto, imóvel, reverente, e mentalmente me curvava à Grande Poesia que passava. 




Um comentário:

Unknown disse...

Saudades que dá desse porta tão ENORME; ele era assim mesmo. Morava ali na Raul Pompéia. Também o conheci e chorei muito quando ele morreu. Ele era de uma simplicidade divina, e cansei de vê-lo entregar livros em escolas quase que pedindo para doar aos alunos. Não tinha apego a nada
Ele, por si só, era uma poesia.

Abraços

Mirze