segunda-feira, 31 de outubro de 2011

SINCERIDADE

SINCERIDADE

HUMBERTO DE CAMPOS

Sem pai, sem mãe, sem parentes, o Conrado voltara do serviço militar sem saber, mesmo, para onde fosse. Dos amigos da família, poucos restavam; e entre estes estava o Antônio Luiz, proprietário de uma pequena casa de móveis, cuja esposa o havia abandonado no mundo deixando-lhe, apenas, como documento de fidelidade matrimonial, a Ernestina e a Lulu, que andavam, agora, a primeira pelos vinte anos, a segunda pelos dezoito.
Acolhido pelo Antônio Luiz, que lhe deu casa e emprego, achou o Conrado que o melhor modo de pagar ao velho aquela dívida de gratidão seria casar uma das meninas, embora as soubesse alegres demais, para um homem trabalhador. E foi com essa idéia que, um dia, em conversa, tocou no assunto ao comerciante.
- Mas qual das duas você pretende? - indagou o velho.
- Eu? A mim é indiferente. O senhor que as conhece bem, é que pode ver qual das duas me servirá.
Antônio Luiz puxou a última fumaça do cachimbo de espuma, bateu-o, desentupindo-o, e falou, com a mão na consciência.
- Meu filho, isso depende de você. Se você pretende mulher que lhe dê filhos, fique com a mais velha; se, porém, quer uma que não lhos dê, escolha a mais nova.
E a um olhar interrogativo do rapaz:
- Sim, porque, se ela tivesse de tê-los, já os teria tido!

de GRÃOS DE MOSTARDA

3 comentários:

Unknown disse...

Nossa!

Adorei! O título não poderia ser mais
apropriado.

Humberto de Campos era excelente mesmo!

Beijos

Mirze

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

sim, ele era um grande escritor

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

sim, ele era um grande escritor