segunda-feira, 17 de outubro de 2011

poemas de rogel samuel

(Imagem: The Escape of Rochefort by Edouard Manet)

poemas de rogel samuel


Não posso reter os teus traços
Nem as notas de teu tema
Pois tua música se esquece
Como as vozes do poema
Da paixão, que mais um traço
Foi do azul de minha pena,
E quando te vir já será garço
O repique da tua cena
e o afastado abraço...
(oriunda onda a que cerca de aço
me levarão tuas algemas?)



era o parque o ser o nada
era o monstro da montanha
era tudo o abandonado
o castelo no ar o aliado
era o canavial incontrolável
a lente de todos os saberes
o morredouro das gentes
o sorvedouro do ser
era o risco a mágoa a nuvem
as estreitezas o ver
mas tinha o que eu mais amava
o sonho a fantasia o crer




era pra ler, era pra ser
era pra ver, era pra não crer
que tudo nada foi, ou nada
apareceu num mundo de provocações
no ardor, ou louro, ou de
uma montanha de ouro
e que tudo deu em nada
ou se perdeu em asas
que como águas de cristais que correm
na pedra no tanque de seu mudo
aço, e sob aquelas vozes alçadas
no pátio do passado perto lá de casa



meio mar

Quando lemos quando poemas quando
fazendo-me vomitar
a fase dura do meu mar
a face horrível do amar
quando
quero ser simples
quero
voltei ao fundo da primeira taça
quero sonhar
era o parque era o nada
era o simples naufragar
voltas na praia antiga
minutos no meio mar





quantos poemas, quando poemas
sem rumo no escrever
vou assinando esses termos
no limbo do anoitecer

quantos poemas, quando poemas


cena carioca

Joga o mendigo na praça
pedaços de pão para os pombos
e inteiramente de graça
dá de ombros.




por maior que seja o diamante
não supera o brilho interno de teus olhos
não quero supor que és minha estrela
mas sim o sol

sobre as colinas e os mares
teu perfume recomeça sempre
nos ventos




por mais negra que seja a noite
devemos esperar pelo amanhã
o sol, bem ou mal, será esperado
a luz diamante apontará no risco
e nós nos amaremos outra vez

feliz quem sabe que
tudo passa
e que o mundo
recomeça sem outro mesmo



Eram três figuras na janela
três amigas, três tristonhas
espiavam para a casa
três certas meninas
aquelas
e eu me dei conta do brinquedo
daquelas figurinhas mitolõgicas
três vezes era demais
para a sabedoria
ser capaz


3 comentários:

Unknown disse...

MEU DEUS, Rogel!

Sei que escreve muito bem e estou louca para encontrar seu libro. Mas não sabia desse dom de escrever poemas que não queremos parar de ler e de sonhar.

Fantástico (s)

Beijos

Mirze

Jefferson Bessa disse...

Que beleza encontrar/reencontrar essa constelação de poemas que sonham e nos sonham. Um grande abraço, amigo!
Jefferson.

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

obrigado, amigos