NA NOITE DE NATAL
Rogel Samuel
Natal de sempre. Não sentia falta. Não lastimava. Necessitava
estar livre, espaço da solidão. Ele era, estava exilado. Mesmo dentro do próprio
país. Natal, festa familiar. Não possuía família. Nem pátria. Por isso, naquela
noite de Natal, dirigindo naquela estrada deserta, naquele país distante e frio,
de que nem sabia o nome, nunca soube onde estava, nunca soube como foi parar
ali. Perdido. Isolado. No meio da noite de natal. Ruas, estradas desertas. Casas
altas. Casas fechadas. Muros altos. Estranha antiga fortaleza. Paisagem
espanhola. Ele dirigia, mãos frias coladas ao volante. Tudo ruindo. Mesmo para
ele, acostumado à fuga, tantas cidades, países tantos. O nunca acabar. No
escuro. Frio.
Então, a última cidade passou, mas a estrada continuou.
Florestas e morros escuros. Um vento gélido percorria
a alta noite cantando como um fantasma. Ele continuava. Os faróis do carro
lambendo as margens com sua língua de luz fraca.
Foi quando percebeu um clarão vindo de algum lugar, de
casa próxima, à beira da estrada.
Para lá se dirigiu.
Próximo, havia uma casa, ou melhor, um casebre. Como
ele estava muito cansado, estacionou perto, e foi andando até aquele lugar, onde
esperava poder descansar.
Chegou. Bateu na porta. Ninguém. Entrou, a porta
aberta. Havia o calor simples e humano vindo da lareira acesa. O lugar
iluminado e bom. Mas ninguém lá. Os móveis simples, velhos. Porém limpos.
Poucas peças, cadeiras, a mesa, o aparador, sobre o qual havia um presépio. Mas
sem o menino Jesus.
“Já volto”, escrito estava num pedaço de papel, ao
lado do presépio. Que importava aquela frase, aquele aviso? Ele estava cansado
e não compreendia. Aninhou-se perto da lareira e dormiu brutalmente, num desmaio.
Dormiu por muitas horas.
Quando acordou, o sol brilhava, a lareira apagada, o
frio passara, o tempo bom. No papel em cima do aparador, escrito: “Bom dia”; e
no presépio, o menino Jesus.
Ele partiu. No caminho viu que as árvores tinham
florido e estavam cheias de cânticos de pássaros.
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