CARNAVAL
ROGEL SAMUEL
NUM carnaval livro que
me faz pensar a morte.
Um livro amarelado, de
latim.
Sim, porque é
carnaval, nós pensamos muito, ao som daquela batucada.
A muito antiga
recordação me chega pelos blocos de sujos, pelas máscaras da morte. Seus
corredores.
O desfile. Longe. Seu
rebolado, ouço.
De seus batuques o
bulir.
De seus reco-recos a
tamborinada batucada.
O desfile segue, na
direção da morte.
Da Matriz? Do
Congresso?
Do princípio ou do
fim?
Nítido já não está seu
quadro mágico.
No escuro da esquina o
grupo some.
Roda o tempo,
mergulha, abissal grito de dor.
Corta a espada o sonho
antigo.
Personagens, fantasias
saem pela porta que sempre esteve ali, aberta, mas disfarçada. Vestidos de
mortos. Da morte.
A uma quadra dali,
estala o balaco-baco do quadro carnavalesco.
É onde estive.
Onde sempre
estarei.
Outra face.
Olímpico, Rio
Negro.
As fantasias
esgarçadas, esmaecidas.
Pulsa o sangue novo
dos viventes mortos.
Transparentes véus se
abrem de onde saem as festas. Fadas, prestidigitadores, coreógrafos, mandarins,
camélias.
Um raio de serpentina
luminosa atravessa o ar, desenrola seu puro ouro.
De dentro do salão
tudo brilha como cristal.
O salão espelhado do
Rio Negro Clube. Faz tudo girar.
É redondo.
Das lança-perfumes o
perfume o ar.
Oh, Camélias de minha
vida, reapareçam!
No chão súbitas
estrelas lancinantes caem e abrem seus cortinados de papel crepon.
Quem nunca pensei
rever, agora está ali dançar.
Sílvio, por exemplo,
me acena, cantando, rebolando, gestualizando, do fundo de seu passado.
Sapateado Maloca dos
Barés.
Todos ali se afastam
das mesas nas fantasias de si mesmos.
O rei Momo e sua corte
avança, na alegoria da vida.
Não o reconheço.
Ele prospera ali.
Vem do luar um halo da
mágica fala branca que atravessa o vácuo da noite.
A festa goteja, se
afasta.
No céu se faz um
súbito silêncio.
Brutal surdez
cristaliza mundos estelares.
Onde, ó Amada, estão
eles?
Não ouso pronunciar
seus nomes.
Para onde foram,
foliões?
O desfile entra no
vale das sombras.
Alegria se
desconstruindo, fazendo-se distante e silenciosa.
No afastado em vão os
chamo.
- Não me deixem, ó
Brinquedos! Não atravessem este rio. Voltem para seus barcos.
......
A vida desfila carnavalesca.
Alegres, cantantes, fantasiados, mascarados, palhaços. Mergulham na morte. O
vento.
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