quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

PASSADO, PRESENTE E FUTURO?

PASSADO, PRESENTE E FUTURO?

Machado de Assis


Uma revolução literária e política fazia-se necessária. O país não podia continuar a viver debaixo daquela dupla escravidão que o podia aniquilar.

A aurora de 7 de setembro de 1822 foi a aurora de uma nova era. O grito do Ipiranga foi o Eureka soltado pelos lábios daqueles que verdadeiramente se interessavam pela sorte do Brasil, cuja felicidade e bem-estar procuravam.

Além disso, as erupções revolucionárias agitavam as entranhas do pais; o facho das dissenções civis ardia em corações inflamados pelas paixões políticas. O povo tinha-se fracionado e ia derramando pelas próprias veias a força e a vida. Cumpria fazer cessar essas lutas fratricidas para dar lugar às lutas da inteligência (...).

É, sem dúvida, por este doloroso indiferentismo que a geração atual tem de (superar) numerosas dificuldades (...). O literato não pode aspirar a uma existência independente, mas sim tornar-se um homem social, participando dos movimentos da sociedade em que vive e de que depende.

(Este indiferentismo) a quem atribuí-lo? Ao povo? O triunfo que obtiveram as comédias do Pena, e do sr. Macedo, prova o contrário. O povo não é avaro em aplaudir e animar as vocações; saber agrada-lo é o essencial.

É fora de dúvida, pois, que a não existir no povo a causa desse mal, não pode existir senão nas direções e empresas (teatrais) (...). As tentativas dramáticas naufragam diante deste czariato de bastidores, imoral e vergonhoso (...). A tradução é o elemento dominante (...). Transplantar uma composição dramática francesa para a nossa língua é tarefa de que se incumbe qualquer bípede que entende de letra redonda  (...). A arte virou uma indústria.

ASSIS, Machado de. O passado, o presente e o futuro da literatura, A marmota, 9 e 23 abr. 1858. Fragmentos.


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