PASSADO, PRESENTE E FUTURO?
Machado de Assis
Uma revolução literária
e política fazia-se necessária. O país não podia continuar a viver debaixo
daquela dupla escravidão que o podia aniquilar.
A aurora de 7 de
setembro de 1822 foi a aurora de uma nova era. O grito do Ipiranga foi o Eureka soltado pelos lábios daqueles que
verdadeiramente se interessavam pela sorte do Brasil, cuja felicidade e
bem-estar procuravam.
Além disso, as erupções
revolucionárias agitavam as entranhas do pais; o facho das dissenções civis
ardia em corações inflamados pelas paixões políticas. O povo tinha-se
fracionado e ia derramando pelas próprias veias a força e a vida. Cumpria fazer
cessar essas lutas fratricidas para dar lugar às lutas da inteligência
(...).
É, sem dúvida, por este
doloroso indiferentismo que a geração atual tem de (superar) numerosas
dificuldades (...). O literato não pode aspirar a uma existência independente,
mas sim tornar-se um homem social, participando dos movimentos da sociedade em
que vive e de que depende.
(Este indiferentismo) a
quem atribuí-lo? Ao povo? O triunfo que obtiveram as comédias do Pena, e do sr.
Macedo, prova o contrário. O povo não é avaro em aplaudir e animar as vocações;
saber agrada-lo é o essencial.
É fora de dúvida, pois,
que a não existir no povo a causa desse mal, não pode existir senão nas
direções e empresas (teatrais) (...). As tentativas dramáticas naufragam diante
deste czariato de bastidores, imoral
e vergonhoso (...). A tradução é o elemento dominante (...). Transplantar uma
composição dramática francesa para a nossa língua é tarefa de que se incumbe
qualquer bípede que entende de letra redonda
(...). A arte virou uma indústria.
ASSIS, Machado
de. O passado, o presente e o futuro da literatura, A marmota, 9 e 23 abr. 1858. Fragmentos.
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