segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Papa Bento renuncia alegando saúde frágil

Papa Bento renuncia alegando saúde frágil



Papa Bento 16 é visto durante um consitório no Vaticano. Bento 16 surpreendeu o mundo ao dizer, nesta segunda-feira, que irá renunciar como líder da Igreja Católica em 28 de fevereiro por não ter mais as forças necessárias para realizar os deveres de seu ofício, tornando-se o primeiro pontífice desde a Idade Média a tomar decisão deste tipo. 11/03/2013 REUTERS/Osservatore Romano

 
Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO, 11 Fev (Reuters) - O papa Bento 16 surpreendeu o mundo nesta segunda-feira ao dizer que renunciará como líder da Igreja Católica em 28 de fevereiro por não ter mais as forças necessárias para realizar os deveres de seu ofício, tornando-se o primeiro pontífice desde a Idade Média a tomar tal decisão.
O papa alemão de 85 anos, visto como um herói por católicos conservadores e com suspeição por liberais, disse ter percebido que sua força se deteriorou nos últimos meses.
O porta-voz do Vaticano padre Federico Lombardi disse que o papa não está renunciando por "dificuldades no papado" e que a decisão foi uma surpresa, indicando que mesmo os auxiliares mais próximos não sabiam que ele estava para deixar o cargo. O papa não teme uma cisão na igreja após sua renúncia, disse o porta-voz.
A liderança de Bento 16 sobre 1,2 bilhão de católicos foi marcada por uma crise a respeito de abuso sexual de crianças que abalou a igreja, por um discurso que desagradou muçulmanos e por um escândalo envolvendo o vazamento de documentos privados através de seu mordomo pessoal.
Em um comunicado, o papa disse que para governar "tanto a força da mente quanto do corpo é necessária força que nos últimos meses tem se deteriorado em mim ao ponto de ter que reconhecer a minha incapacidade de realizar adequadamente o ministério que foi confiado a mim".
"Por esta razão e consciente da seriedade deste ato, em completa liberdade, eu declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro", disse o papa, de acordo com um comunicado do Vaticano.
O último papa a renunciar voluntariamente foi Celestino 5o, em 1294, depois de liderar a Igreja Católica por apenas cinco meses. Sua renúncia foi conhecida como a "grande recusa" e foi condenada pelo poeta Dante na "Divina Comédia". Gregório 12o abdicou de forma relutante em 1415 para encerrar uma disputa com outro rival pelo cargo.

Papa Bento XVI renuncia e deixa pontificado no dia 28 de fevereiro Papa Bento XVI renuncia e deixa pontificado no dia 28 de fevereiro
O Vaticano confirmou na manhã desta segunda-feira que o papa Bento XVI vai renunciar ao posto de líder mundial da Igreja Católica no próximo dia 28 de fevereiro. Ele anunciou em latim a decisão pela primeira vez durante uma reunião de cardeais no Vaticano nesta segunda-feira.

Em comunicado, o Papa disse que tomou a decisão por considerar que sua condição de saúde e idade avançada já não eram adequadas para continuar no cargo.

"Após ter repetidamente examinado minha consciência ante Deus, eu tive a certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, não são mais ideais para um adequado exercício do ministério Petrino", disse o Papa em comunicado.

"Eu declaro que renunciarei ao ministério do Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, a mim confiado pelos cardeais em 19 de abril de 2005".
Papa Bento XVI

A decisão do Papa é uma grande surpresa para a comunidade católica e para a imprensa mundial, uma vez que, apesar de rumores, não havia sinais de que ele estava prestes a renunciar. Na semana passada, um porta-voz do Vaticano disse que boatos de que Bento XVI renunciaria eram "criações infundadas de alguns jornalistas".

Em entrevista coletiva para esclarecer a decisão do Papa, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou na manhã desta segunda-feira que a decisão pegou "todos de surpresa", incluindo os assistentes mais próximos. Ele também salientou que a decisão não foi tomada por quaisquer dificuldades que Bento XVI possar ter encontrado em seu papado, apenas por problemas de saúde.

O porta-voz disse que o novo Conclave para eleger um novo Papa deverá ser realizado em algum ponto de março, antes do final do mês. Bento XVI não irá participar da escolha, segundo Lombardi.

O porta-voz também anunciou Bento XVI deve ir à residência papal de verão, nas proximidades de Roma, após sua renúncia entrar em efeito. Posteriormente, o Papa deve retornar ao Vaticano para morar em uma residência reclusa e dedicar o restante de sua vida a orações, escrever e estudar a fé.

O alemão Joseph Ratzinger, 85 anos, se tornou Papa em abril de 2005. Ele substituiu João Paulo II, que morreu no mesmo mês. Ao contrário do atual pontífice, João Paulo II permaneceu no posto mesmo doente até sua morte, aos 92 anos.

Bento XVI deveria vir ao Brasil em julho deste ano. Ele participaria da Jornada Mundial da Juventude que acontecerá no Rio de Janeiro.

Renúncia Papal
A renúncia de um Papa está prevista no Código de Direito Canônico, que estabelece que para que seja válida é necessário que seja livre e especifica que não precisa ser aceita por ninguém.

"Se o Romano pontífice renunciar a seu ofício, requer-se para a validade que a renúncia seja livre e se manifeste formalmente, mas que não seja aceita por ninguém", estabelece o cânone 332,2 do Código de Direito Canônico, único elemento válido para julgar o tema.

O último Somo Pontífice a renunciar foi Gregório XII, em 1415. Bento XVI é o quarto Papa a renunciar ao cargo.

Confira a íntegra do comunicado de Bento XVI:

Queridos irmãos,

Eu convoquei vocês para esse Consistório, não apenas para as três canonizações, mas também para comunicá-los de uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Após ter repetidamente examinado minha consciência ante Deus, eu tive a certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, não são mais ideais para um adequado exercício do ministério Petrino. Eu estou bem consciente de que esse ministério, devido à sua essencial natureza espiritual, deve ser realizado não só com palavras e ações, mas não menos com orações e sofrimento. Contudo, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de profunda relevância para a vida da fé, de modo a governar a casa de São Pedro e proclamar o Evangelho, ambas as forças mental e de corpo são necessárias, forças que em mim nos últimos meses se deterioraram a um ponto que eu tenho de reconhecer minha incapacidade para cumprir adequadamente o ministério a mim confiado. Por esta razão, e totalmente ciente da seriedade do ato, com toda a liberdade eu declaro que renunciarei ao ministério do Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, a mim confiado pelos cardeais em 19 de abril de 2005, de maneira que, a partir das 20h do dia 28 de fevereiro, a Sé de Roma, a Sé de São Pedro, estará vaga e um Conclave para eleger o novo Sumo Pontífice deverá ser convocado por aqueles competentes para isso.

Queridos irmãos, eu os agradeço com muita sinceridade por todo amor e trabalho com o qual vocês apoiaram o meu ministério e peço perdão por todos os meus defeitos. E agora, confiemos a nossa Santa Igreja aos cuidados de nosso Supremo Pastor, nosso Senhor Jesus Cristo, e implorar que sua sagrada Mãe Maria para que ela ajude os Padre Cardeais com a sua solicitude materna na eleição do novo Sumo Pontífice. Em relação a minha pessoa, eu desejo também devotadamente servir a Santa Igreja de Deus no futuro através de uma vida dedicada a orações.

Bento XVI  



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