Hino ao trabalho
Rogel Samuel
Bilac escreveu um dos mais belos hinos ao trabalho,
desde o trabalho pré-histórico operador do fogo, construtor da primeira casa, o
que começou a lavrar, o lavrador o ferreiro o coveiro... costureiro, o
escritor, marinheiro, cantor, eletricista, aviador, o socialista, o homem da
esperança.... O trabalho é aquela
atividade, aquela mercadoria valiosíssima, que visa a um determinado fim (O
capital, I, 1). Atividade essa que opõe o homem à natureza e revela sua capacidade
de gerar valor, seja pela força de trabalho humano fisiológico simples, seja
pelo trabalho abstrato intelectual e artístico. Todo trabalho é um dispêndio de
cérebro para criar riqueza, com músculo, nervos, mãos. Produzir é em si gerar
uma mercadoria, um valor. O trabalho construiu o mundo, ou com operários
manuais, mecânicos, ou com cantores, pianistas, escritores e poetas. Nós somos
que fizemos.
Benedicite!
Bendito o que, na terra, o fogo fez, e o tecto;
E o que uniu a charrua ao boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada; e o que, do chão abjeto,
Fez, aos beijos do sol, o ouro brotar do trigo;
E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E o que os fios urdiu; e o que achou o alfabeto;
E que deu uma esmola ao primeiro mendigo;
E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano;
E o que inventou o canto; e o que criou a lira;
E o que domou o raio; e o que alçou o aeroplano...
Mas bendito, entre os mais, o que, no dó profundo,
Descobriu a Esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo!
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