“Mona Lisa há só uma”
Novos dados científicos sobre a Mona Lisa de Isleworth reforçam teoria de que é uma versão anterior à de Paris. Mas estão longe de convencer Henri Loyrette, o director do Louvre.
O regresso de Mona Lisa é cíclico. Especialistas e curiosos – há entusiastas dos dois lados – parecem ter sempre qualquer coisa a acrescentar: um novo detalhe histórico, um pormenor que salta à vista na análise de outras obras de Leonardo da Vinci e que serve de base a especulações sobre o célebre retrato, uma cópia contemporânea do original do mestre da Renascença italiana que passou despercebida durante décadas (foi assim no Museu do Prado em 2010)… Mona Lisa fascina, e não é só por causa do seu “sorriso místico”, como cantava Nat King Cole.
Agora surgiram novos dados em relação à Mona Lisa de Isleworth, um retrato que era há muito conhecido mas que só no ano passado foi apresentado por uma fundação suíça como a primeira versão de Leonardo da obra que hoje faz parte da colecção do Museu do Louvre, em Paris.
A teoria de que a de Isleworth fora pintada dez anos antes da de Paris foi divulgada aos jornalistas pela Fundação Mona Lisa em Setembro, numa conferência de imprensa em Genebra, cuidadosamente encenada e muito concorrida. E logo na altura suscitou protestos e dúvidas. Seria mesmo a primeira versão deste retrato que é, provavelmente, a obra de arte mais divulgada do mundo?
No final desta semana, a fundação anunciou ter novos dados técnicos que permitem reforçar a tese da autenticidade da pintura de que é proprietária e que estava há quase 40 anos guardada no cofre de um banco suíço.
Segundo o diário britânico The Guardian, o Instituto de Tecnologia da Suíça conduziu uma série de testes que lhe permitem afirmar que a tela sobre a qual foi pintada a Mona Lisa de Isleworth - na do Louvre o suporte é madeira – tem por data aproximada 1410-1455. Este dado, obtido com recurso à datação por carbono 14, vem refutar, segundo os especialistas consultados pela fundação, a teoria dos peritos que, acreditando tratar-se de uma cópia de um seguidor de Leonardo (1452-1519), defendem que a obra é de finais do século XVI.
O retrato do Louvre terá sido pintado entre c.1503 e 1506 (data mais referida), embora alguns peritos tenham vindo a defender que, tratando-se de uma obra inacabada, é bem provável que o pintor ainda trabalhasse nela quando morreu, o que faria avançar a cronologia para 1505-1519.
Em declarações a este jornal inglês, David Feldman, filatelista, leiloeiro e autor de vários livros de arte que é também vice-presidente da fundação suíça, explicou que os dados técnicos recolhidos pelo instituto, associados às conclusões do geómetra italiano Alfonso Turbino, não deixam dúvidas quanto à autoria da Mona Lisa de Isleworth. Turbino defende que o retrato, muito menos sombrio do que o do Louvre, obedece às linhas estruturais elementares de Leonardo.
“Quando juntamos todas estas novas descobertas a estudos científicos e físicos muito ricos que já temos, acredito que qualquer pessoa pode chegar à conclusão de que a atribuição a Leonardo tem provas esmagadoras”, disse Feldman na sexta-feira.
Alfonso Turbino, especialista de Pádua que estudou aprofundadamente a geometria na obra de Leonardo, também defende que o retrato de Isleworth – assim nomeado para homenagear Hugh Blaker, crítico de arte que a teve na sua colecção durante décadas e que morava neste subúrbio londrino – saiu da mão do mestre.
Quem não é partidário desta interpretação é o director do Louvre, Henri Loyrette, que deverá deixar a chefia do museu em Abril. Em declarações ao jornal francês Le Figaro, o historiador de arte não deixou margem para segundas interpretações - “Mona Lisa há só uma, a do Louvre. A sua história é perfeita porque vem directamente [do que sabemos ser] de Leonardo nas colecções reais francesas.”
Lamentando que se olhe quase sempre para Mona Lisa como um ícone, Loyrette concluiu: “Esquecemos demasiadas vezes que ela é uma grande obra-prima da história da pintura.” História que, segundo a fundação suíça e o seu séquito de especialistas, tem de ser agora reescrita.
Martin Kemp, professor emérito da Universidade de Oxford e reconhecido especialista na obra de Leonardo, está entre os que refutam a teoria de Feldman, principal autor do livro Mona Lisa, Leonardo"s Earlier Version, lançado em Setembro, quando se abriu o cofre do banco suíço e de lá saiu uma mulher aparentemente mais jovem do que a que conhecemos da pintura que todos os anos atrai milhões ao Louvre e que, para muitos, retrata Lisa Gherardini, casada com um rico mercador de Florença, que teria posado para Leonardo a pedido do marido.
Na altura Kemp garantiu à agência de notícias France Presse que as reflectografias de infravermelhos, técnica que permite olhar para o desenho que a camada de tinta esconde, mostram que a versão suíça "não tem todas as características das pinturas identificadas de Leonardo". À Associated Press, a congénere norte-americana, o professor de Oxford questionou as bases da teoria da fundação, explicando que as análises científicas por si só também não podem negar categoricamente que não se trata de um Leonardo. "À Mona Lisa de Isleworth faltam-lhe detalhes subtis do original", garantiu Kemp. "O véu da modelo, o cabelo, a camada translúcida sobre o vestido, a estrutura das mãos..." Para o especialista, a cabeça, tal como noutras cópias, "não capta a sensação profundamente ilusória do original".
Por agora, podemos apenas estar certos de que este debate à volta da mais popular das pinturas de Leonardo não vai ficar por aqui.
Agora surgiram novos dados em relação à Mona Lisa de Isleworth, um retrato que era há muito conhecido mas que só no ano passado foi apresentado por uma fundação suíça como a primeira versão de Leonardo da obra que hoje faz parte da colecção do Museu do Louvre, em Paris.
A teoria de que a de Isleworth fora pintada dez anos antes da de Paris foi divulgada aos jornalistas pela Fundação Mona Lisa em Setembro, numa conferência de imprensa em Genebra, cuidadosamente encenada e muito concorrida. E logo na altura suscitou protestos e dúvidas. Seria mesmo a primeira versão deste retrato que é, provavelmente, a obra de arte mais divulgada do mundo?
No final desta semana, a fundação anunciou ter novos dados técnicos que permitem reforçar a tese da autenticidade da pintura de que é proprietária e que estava há quase 40 anos guardada no cofre de um banco suíço.
Segundo o diário britânico The Guardian, o Instituto de Tecnologia da Suíça conduziu uma série de testes que lhe permitem afirmar que a tela sobre a qual foi pintada a Mona Lisa de Isleworth - na do Louvre o suporte é madeira – tem por data aproximada 1410-1455. Este dado, obtido com recurso à datação por carbono 14, vem refutar, segundo os especialistas consultados pela fundação, a teoria dos peritos que, acreditando tratar-se de uma cópia de um seguidor de Leonardo (1452-1519), defendem que a obra é de finais do século XVI.
O retrato do Louvre terá sido pintado entre c.1503 e 1506 (data mais referida), embora alguns peritos tenham vindo a defender que, tratando-se de uma obra inacabada, é bem provável que o pintor ainda trabalhasse nela quando morreu, o que faria avançar a cronologia para 1505-1519.
Em declarações a este jornal inglês, David Feldman, filatelista, leiloeiro e autor de vários livros de arte que é também vice-presidente da fundação suíça, explicou que os dados técnicos recolhidos pelo instituto, associados às conclusões do geómetra italiano Alfonso Turbino, não deixam dúvidas quanto à autoria da Mona Lisa de Isleworth. Turbino defende que o retrato, muito menos sombrio do que o do Louvre, obedece às linhas estruturais elementares de Leonardo.
“Quando juntamos todas estas novas descobertas a estudos científicos e físicos muito ricos que já temos, acredito que qualquer pessoa pode chegar à conclusão de que a atribuição a Leonardo tem provas esmagadoras”, disse Feldman na sexta-feira.
Alfonso Turbino, especialista de Pádua que estudou aprofundadamente a geometria na obra de Leonardo, também defende que o retrato de Isleworth – assim nomeado para homenagear Hugh Blaker, crítico de arte que a teve na sua colecção durante décadas e que morava neste subúrbio londrino – saiu da mão do mestre.
Quem não é partidário desta interpretação é o director do Louvre, Henri Loyrette, que deverá deixar a chefia do museu em Abril. Em declarações ao jornal francês Le Figaro, o historiador de arte não deixou margem para segundas interpretações - “Mona Lisa há só uma, a do Louvre. A sua história é perfeita porque vem directamente [do que sabemos ser] de Leonardo nas colecções reais francesas.”
Lamentando que se olhe quase sempre para Mona Lisa como um ícone, Loyrette concluiu: “Esquecemos demasiadas vezes que ela é uma grande obra-prima da história da pintura.” História que, segundo a fundação suíça e o seu séquito de especialistas, tem de ser agora reescrita.
Martin Kemp, professor emérito da Universidade de Oxford e reconhecido especialista na obra de Leonardo, está entre os que refutam a teoria de Feldman, principal autor do livro Mona Lisa, Leonardo"s Earlier Version, lançado em Setembro, quando se abriu o cofre do banco suíço e de lá saiu uma mulher aparentemente mais jovem do que a que conhecemos da pintura que todos os anos atrai milhões ao Louvre e que, para muitos, retrata Lisa Gherardini, casada com um rico mercador de Florença, que teria posado para Leonardo a pedido do marido.
Na altura Kemp garantiu à agência de notícias France Presse que as reflectografias de infravermelhos, técnica que permite olhar para o desenho que a camada de tinta esconde, mostram que a versão suíça "não tem todas as características das pinturas identificadas de Leonardo". À Associated Press, a congénere norte-americana, o professor de Oxford questionou as bases da teoria da fundação, explicando que as análises científicas por si só também não podem negar categoricamente que não se trata de um Leonardo. "À Mona Lisa de Isleworth faltam-lhe detalhes subtis do original", garantiu Kemp. "O véu da modelo, o cabelo, a camada translúcida sobre o vestido, a estrutura das mãos..." Para o especialista, a cabeça, tal como noutras cópias, "não capta a sensação profundamente ilusória do original".
Por agora, podemos apenas estar certos de que este debate à volta da mais popular das pinturas de Leonardo não vai ficar por aqui.
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