O AUGUSTO DOS ANJOS DE ZEMARIA PINTO
ROGEL SAMUEL
Depois, seis meses depois de recebê-lo concluo a
leitura do excelente livro de Zemaria Pinto: “ .
Como já se disse, somente agora me permitiram os
trabalhos e os dias de fazê-lo.
Trata-se de um dos melhores estudos – dos mais
completos – do poeta paraibano.
Mas é claro que trata de uma obra poética
amplamente estudada, e o livro de Zemaria Pinto correu conscientemente o risco
de investigar uma obra muito estudada, e não citar os textos conhecidos como o
de Lúcia Helena em “A Cosmo-Agonia de Augusto dos Anjos”; além de Lúcia
Sá etc.
Vou
concentrar-me no budismo que aparece no poeta Augusto dos Anjos.
A noção de
Budismo que existe na obra de Augusto é algo pessoal e mesmo “interpretada”,
como de outros autores de sua época.
Os poetas não
enfrentam nem poderiam enfrentar a complexidade budista.
Eu diria que
o budismo passa a ser uma figura poética, retórica.
O budismo aponta para a “felicidade”, é o caminho
da felicidade, da alegria. E vacuidade não é aniquilação.
O que o budismo tenta aniquilar é justamente a
noção de “eu”, tão forte presença em todos nós.
Mas aniquilar o “eu” é dissolver os nossos problemas,
e não o contrário.
O budismo é visto pelos poetas da época com o
estigma da dor.
Não é assim nas diversas escolas de budismo.
Ninguém é mais feliz do que um grande monge
budista.
O que o Buda viu foi o caminho que leva `a
felicidade, ao nirvana, que é bom no começo, no meio e no fim.
Mas o livro de Zemaria Pinto não comete esses
erros, pois escreveu ele que “a poesia de Augusto dos Anjos encontra o seu Zeitgeist, o espírito dionisíaco de seu
tempo, em uma expressão inédita na literatura brasileira, que desnorteou, por
muito tempo, sua recepção crítica” – diz ele.
“Poeta – continua - desde a adolescência, seus
poemas mais antigos, dos dezesseis anos, já trazem a marca de um eu lírico
melancólico, marcado pela solidão e pela reflexão sobre o estar-no-mundo” .
“No “Monólogo de uma sombra”, poema que abre o Eu, após zombar das ciências e bradar
contra a permissividade, uma espécie de deus-verme, vaticina que somente a Arte
pode redimir a Humanidade. Em “Os doentes”, uma alegoria da degradação, a ideia
de que a Arte é a única saída para a Humanidade retorna, e o poema termina de
forma otimista, “o começo magnífico de um sonho”, “a gestação daquele grande
feto, / que vinha substituir a Espécie Humana!” (p. 249). Para Schopenhauer, a
arte é a única razão para que o sofrimento seja suportável, ainda que seja
representação do sofrimento”.
“A sua dor é a dor universal. Manifestando-a, ele
denuncia a corrupção a que está submetida a humanidade. Essa é a sua alegria” -
escreveu Zemaria Pinto.
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