O modelo latinoamericano
O modelo latinoamericano
Emir Sader
O que melhor caracteriza o cenário mundial é a
recessão no centro do capitalismo e a capacidade de manter níveis de
expansão de suas economias, acompanhadas de distribuição de renda, no
Sul do mundo. Claro que o crescimento de tres décadas seguidas da
economia chinesa é alavanca essencial desse fenômeno. Mas ele é parte
integrante do cenário, que revela a reiteração do modelo neoliberal no
centro e modalidades de expansão com extensão dos mercados internos de
consumo popular no Sul.
Antes do ciclo de crises atual, uma
recessão no centro era devastadora para o sistema no seu conjunto, com
efeitos ainda mais agudos na periferia, pela dependência da demanda, dos
investimentos e dos créditos. Desta vez nossas sociedades sofrem os
efeitos dessa retração, baixam seu ritmo de crescimento, mas não entram
em recessão. Já existe uma certa multipolaridade econômica no mundo, de
forma que o que sucede no centro não se transfere mecanicamente para a
periferia.
A América Latina pode assim exibir ao mundo um outro
modelo, que não apenas mantem ritmos de desenvolvimento econômico, mas o
faz simultaneamente com a distribuição de renda. Tem portanto não
apenas uma superioridade econômica, mas política, social e moral. Como
uma de suas consequências, enquanto na Europa todos os governos que se
submetem a processos eleitorais - de esquerda ou de direita – são
derrotados, porque responsabilizados por politicas recessivas e
devastadoras socialmente, os governos que colocam o modelo alternativo
em prática na América Latina, tem sido eleitos, reeleitos e tem
conseguido eleger seus sucessores.
Enquanto na Europa se produz
um processo sistemático de empobrecimento da população, aqui tem
diminuído sistematicamente a pobreza e a miséria. Os países europeus,
que tinham recebido grande quantidade de trabalhadores imigrantes, veem
agora uma parte destes retornar a seus países, enquanto nacionais passam
a buscar trabalho em outros países e continentes.
A maior
disputa política hoje no mundo se dá entre o modelo neoliberal mantido
no centro do capitalismo e o modelo latinoamericano.
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