sexta-feira, 1 de abril de 2011
Expedição identifica cavernas sagradas dos índios yanomami no Pico da Neblina, no Amazonas
Cecav e IMCBio realizam expedição inédita para cadastrar cavernas, em um projeto denominado Levantamento Etnoespeleológico
Manaus, 18 de Março de 2011
Elaíze Farias
Pico da Neblina, no Amazonas, possui uma diversidade de cavernas desconhecidas da maioria da população (Divulgação/Acervo Parna Pico da Neblina.)
Expedição inédita realizada no final do ano passado no Parque Nacional do Pico da Neblina, no Amazonas, identificou cinco cavernas que são consideradas sagradas pelos indígenas da etnia yanomami – além de ser um parque federal, a área é uma terra indígena demarcada.
As cavernas localizadas na região do Alto Rio Negro, apesar do conhecimento dos indígenas, ainda não haviam sido cadastradas pelo Centro Nacional de Conservação e Pesquisas de Cavernas (Cecav), órgão vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsáveis pela expedição.
Embora tenha sido realizada há três meses, somente nesta semana a expedição foi divulgada pelo ICMBio.
Com o cadastro das cavernas, espera-se assegurar a preservação da área, conforme explicações de José Carlos Reino, analista do Cecav e coordenador da expedição, em entrevista ao acritica.com.
O projeto Levantamento Etnoespeleológico também deverá compor o etnozoneamento e o Plano de Manejo da Unidade.
Diferente de outras áreas semelhantes, as cavernas do Pico da Neblina (localizadas na base) não são espaços meramente físicos. A importância espiritual que os yanomami dão ao local confere um status especial às cavernas.
Mitos
Daí o cuidado que o Cecav e o ICMBio estão tendo para divulgar os dados encontrados no local.
“A gente ainda não colocou as coordenadas geográficas, nem divulga fotografias do que foi encontrado. Por enquanto, a gente está sistematizando os dados para apresentar primeiramente aos indígenas”, disse Reino.
Algumas informações, contudo, podem ser reveladas. Segundo Reino, as cavernas são de pequenas dimensões e têm um rico ecossistema.
O conjunto geral é denominado de granitóides (referente à gratito). A expedição, que demanda uma expressiva logística, foi realizada ao longo de 60 quilômetros de extensão.
Além do cadastro oficial das cavernas, os participantes da expedição querem dar continuidade ao projeto com a construção de uma publicação com relatos das histórias e dos mitos identificados na relação entre os yanomami com as cavernas.
Sagrado
Embora toda expedição em uma unidade de conservação federal seja realizada também com vistas ao desenvolvimento de um plano de manejo, é pouco provável que as cavernas do Pico da Neblina possam ser utilizadas para atividades turísticas, segundo Reino.
“Eles (indígenas) não querem isso. As cavernas são sagradas para eles. O que eles querem é poder reviver a história e os mitos associadas às cavernas para as próximas gerações para que eles não sejam esquecidos”, disse o analista.
Yanomami
A primeira fase da expedição contou com uma assembleia geral para pedir autorização dos yanomami. Em seguida, os indígenas participaram ativamente como protagonistas da atividade.
“Foram os próprios yanomami que levaram a equipe. Mas antes, a gente apresentou o projeto a eles, para ver se concordavam em nos deixar entrar. Eles permitiram e nos acompanharam”, disse Márcia Abrão, analista do Parna Pico da Neblina, cuja sede fica em São Gabriel da Cachoeira, interior do Amazonas.
Moradores das comunidades Maturacá e Ariabú, no Parque, os indígenas foram os guias da expedição até as cavernas – no início da atividade, o cacique Joaquim Figueiredo também ofereceu proteção espiritual à expedição.
“Antes de sairmos em busca das cavernas, o cacique disse que deixou um sinal (uma luz) na cabeça de cada um de nós, para que fossemos identificados pelos espíritos. Assim, todas as cavernas do planeta onde haja esses espíritos receberão uma fumaça avisando que os exploradores irão com um sinal de luz na cabeça, para que não haja mal algum a eles”, conta Marcia.
Rio Negro
O Cecav planeja realizar outras expedições no Alto Rio Negro, desta vez no região do rio Maiá e Morro dos Seis Lagos.
Conforme Reino, devido aos cortes no orçamento feito pelo governo federal ainda não está definido se o projeto de prosseguir na expedição ainda este ano.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário