sábado, 10 de maio de 2014

A arte da fuga

A arte da fuga

 
ROGEL SAMUEL


(FOTO DE RIBAMAR MITOSO)

O frio da madrugada. Escrevo quase na total escuridão, somente com a luz que vem da tela e a suave claridade da luminária distante. Ouço uma altíssima música, no sentido espiritual do ouvir. Mas somente eu a ouço, nos fones do MP3, A arte da fuga, de Bach, e quem executa é Neville Marriner com a Academy of St Martin in the Fields etc. e é uma sucessão de fugas em contraponto... chegam a dizer que é obra inacabada de Bach, mas creio mesmo que é para nunca mais acabar, para infinitamente se realizar, se repetir, se recontar, numas voltas contínuas enquanto o tempo for tempo, enquanto a vida for viva, enquanto o ouvir for possível, e a noite for ainda noite, e o mundo dos vales e rios e montanhas existirem nesses lados, e a floresta dormir sob o manto quase imperceptível das estrelas e das nossas imaginações...

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