A arte da fuga
ROGEL SAMUEL
(FOTO DE RIBAMAR MITOSO)
O frio da madrugada. Escrevo
quase na total escuridão, somente com a luz que vem da tela e a suave
claridade da luminária distante. Ouço uma altíssima música, no sentido
espiritual do ouvir. Mas somente eu a ouço, nos fones do MP3, A arte da
fuga, de Bach, e quem executa é Neville Marriner com a Academy of St
Martin in the Fields etc. e é uma sucessão de fugas em contraponto...
chegam a dizer que é obra inacabada de Bach, mas creio mesmo que é para
nunca mais acabar, para infinitamente se realizar, se repetir, se
recontar, numas voltas contínuas enquanto o tempo for tempo, enquanto a
vida for viva, enquanto o ouvir for possível, e a noite for ainda noite,
e o mundo dos vales e rios e montanhas existirem nesses lados, e a
floresta dormir sob o manto quase imperceptível das estrelas e das
nossas imaginações...
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