Géneros Literários
Novas
tendências críticas aparecem no Século Vinte, enfatizando a
literariedade do texto literário como um fato linguístico, e centrando o
significado de um poema nos padrões internos da imagem, metáfora,
paradoxo e ironia. As novas críticas desvalorizam as características do
género na literatura, como algo extrínseco à literalidade. Substituem a
noção de género pela de “texto”, em processo de invenção. O novo género
geral é a escritura, a pesquisa da linguagem, das dimensões de
uma nova poética. À desestruturação do género, corresponde uma
desestruturação do mundo, e novas formas de género correspondem a novas
formas de ser e viver. O novo género passa ao verossímil da
obra literária, o conjunto de significados no horizonte amplo do sentido
de uma obra. Logo, cada nova obra inaugura um género novo, todo seu,
numa tensão entre o seu “eu” linguístico e o
seu “eu” existencial, inserido numa cultura na nossa era electrónica.
A literatura volta a ser o logos fundador da poesia, num retorno originário, como disse Liba Beider.
Rogel Samuel
Excerto do Livro “Modernas Teorias Literárias – Breve Introdução"
© 2014, Nova Aliança Editora, Portal Entretextos
*
A Poesia de Maria Azenha revela todo o sentido deste excerto, vejamos:
Título do poema: “dos espelhos”, in “Num Sapato de Dante”, Escrituras Editora e Distribuidora de Livros Ltda., São Paulo, Brasil, 2012
__
os espelhos dão os bons dias e as boas tardes
não se pode amar alguém senão ao pé dos espelhos
por vezes choram ao dar as boas noites
colocando diamantes líquidos nos dedos dos amantes.
os espelhos inventam canções de amor.
o menino lá fora com flores cá dentro não sabe que vai em viagem
e está ao espelho de um dia triste de luz muito branca.
faz anos em campos benévolos de cinco regatos frescos
e as flores crescem e murcham como névoas feridas por uma acha de Deus.
e queimam. e o menino incendeia-se numa canção ferina da lua
e cinco rosas ígneas numa cruz de névoa ardem em seus lábios de tochas
ardem em cinco candelabros alvíssimos e ébrios de astros.
manda Deus que os céus tenham espelhos nas aurículas dos verbos
coroando a cabeça dos anjos com o sangue dos planetas.
os espelhos são a cópia divina de momentos do crepúsculo e
por toda a terra se multiplicam
espelhos à noite que vertem estrelas para dentro de copos de água
espelhos que alumiam as cinco ínsulas do coração
espelhos de cabelos brancos de solidão humana
espelhos de cântaros pousados na boca das estantes
espelhos de abelhas nos cabelos de Bach
espelhos de flores de orvalho coroando a cabeça dos bosques
espelhos inquietos. espelhos que correm através de cometas.
espelhos incessantes
espelhos de tristeza
espelhos de aeroportos
espelhos de sangue
espelhos de tato
espelhos de olfato
espelhos de memória à glória do espaço.
os espelhos são lençóis brancos que dizem adeus aos mortos
e os espelhos partem-se. e fazem-se em mil criações.
na praia estão mil espelhos desnudos abraçados aos cinco oceanos
e dão as boas tardes ao alaúde das aves
espelhos de espelhos até aos joelhos
espelhos que inauguram o movimento das nuvens
e rompem o ponto mais azul.
o meu amado é um espelho.
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seu “eu” existencial, inserido numa cultura na nossa era electrónica.
A literatura volta a ser o logos fundador da poesia, num retorno originário, como disse Liba Beider.
Rogel Samuel
Excerto do Livro “Modernas Teorias Literárias – Breve Introdução"
© 2014, Nova Aliança Editora, Portal Entretextos
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A Poesia de Maria Azenha revela todo o sentido deste excerto, vejamos:
Título do poema: “dos espelhos”, in “Num Sapato de Dante”, Escrituras Editora e Distribuidora de Livros Ltda., São Paulo, Brasil, 2012
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os espelhos dão os bons dias e as boas tardes
não se pode amar alguém senão ao pé dos espelhos
por vezes choram ao dar as boas noites
colocando diamantes líquidos nos dedos dos amantes.
os espelhos inventam canções de amor.
o menino lá fora com flores cá dentro não sabe que vai em viagem
e está ao espelho de um dia triste de luz muito branca.
faz anos em campos benévolos de cinco regatos frescos
e as flores crescem e murcham como névoas feridas por uma acha de Deus.
e queimam. e o menino incendeia-se numa canção ferina da lua
e cinco rosas ígneas numa cruz de névoa ardem em seus lábios de tochas
ardem em cinco candelabros alvíssimos e ébrios de astros.
manda Deus que os céus tenham espelhos nas aurículas dos verbos
coroando a cabeça dos anjos com o sangue dos planetas.
os espelhos são a cópia divina de momentos do crepúsculo e
por toda a terra se multiplicam
espelhos à noite que vertem estrelas para dentro de copos de água
espelhos que alumiam as cinco ínsulas do coração
espelhos de cabelos brancos de solidão humana
espelhos de cântaros pousados na boca das estantes
espelhos de abelhas nos cabelos de Bach
espelhos de flores de orvalho coroando a cabeça dos bosques
espelhos inquietos. espelhos que correm através de cometas.
espelhos incessantes
espelhos de tristeza
espelhos de aeroportos
espelhos de sangue
espelhos de tato
espelhos de olfato
espelhos de memória à glória do espaço.
os espelhos são lençóis brancos que dizem adeus aos mortos
e os espelhos partem-se. e fazem-se em mil criações.
na praia estão mil espelhos desnudos abraçados aos cinco oceanos
e dão as boas tardes ao alaúde das aves
espelhos de espelhos até aos joelhos
espelhos que inauguram o movimento das nuvens
e rompem o ponto mais azul.
o meu amado é um espelho.
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