sábado, 10 de maio de 2014

MAIS LITERALTICES DE ISAAC MELO





  

morre a noite
aurora do meu peito
agudo açoite


*


não sou nada
apenas homem
indignado


*


livrem-me da prisão da eternidade
a morte, meu aguilhão e liberdade


*


retiro a máscara
a imagem que vejo
não me retrata


*


o amor é capricho
o sexo, relaxo


*


na calçada, o tempo parou e olhou
a vida veloz cruzou a esquina
a morte, guarda de trânsito, a multou


*


um poeta não é nada
enquanto sua alma-palavra
estiver calada


*


sábio
é aquele que foge
daquele que diz que sabe


*


e esta fome que não passa
e esta graça que não grassa
e esta dúvida que queima
e esta vida que teima


*


todos os soldados armados
não vale um poeta amado


*


essa mania de querer
ser tudo
ainda vai nos levar
a nada


*


ainda fujo de mim
nem que para isso eu roube
as asas de um passarim


*


melhor assim
não confiar em deus
se ele não confiar em mim


*


não me venha com lições
para isso basta meu coração
e suas razões


*


não me importa
que me chamem de louco
desde que eu possa ser
isso e mais um pouco


*


perdi a fé também
mas ninguém perde
aquilo que não tem


*


meu ato de fé
é os lábios
de uma mulher


*


a vida
eu não maldigo
não há ninguém que tendo tudo
não seja também mendigo


*


não é a vida que para
sou eu que não vou


*


nem devagar nem muito apressado
a morte espreita sempre os extremos
de cada lado


*


ainda vou ser rico
ter duas mulheres
e me mudar pra suíça


*


alguns sonharam-me
como um homem sagrado
agora acordem
tornei-me alucinado
deixei tudo à revelia
para viver em companhia
das musas e da filosofia


*


já se nasce morrendo
e  só se morre vivendo
então vivamos
enquanto nos resta
o que morrer


*


a poesia, se duvidar,
nas asas de uma borboleta
ainda vai voar
 *


poema curto
eu curto
corto
até curtir
ir


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