quinta-feira, 29 de maio de 2014

Para fazer um soneto

CARLOS PENA FILHO 

Para fazer um soneto

 
 
Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
e espere pelo instante ocasional.
Nesse curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial.

Aí, adote uma atitude avara:
se você preferir a cor local, 
não use mais que o sol de sua cara 
e um pedaço de fundo de quintal.

Se não, procure a cinza e essa vagueza 
das lembranças da infância, e não se apresse, 
antes, deixe levá-lo a correnteza.

Mas ao chegar ao ponto em que se tece 
dentro da escuridão a vã certeza, 
ponha tudo de lado e então comece.


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