A FLORESTA DINAMIZADA
NEUZA MACHADO
A narrativa O Amante das Amazonas apresenta-se (e apresentar-se-á no futuro) como incomum ficção transmutativa. Enquanto houver leitores que visualizem dinamicamente o entrelaçar das mensagens reveladoras, ao interagir com os ditos e os não-ditos de Rogel Samuel, os pecados e as virtudes dos seres humanos, a Floresta Amazonense e a cidade de Manaus sempre se revitalizarão. As “neo-impressões” ficcionais de Rogel Samuel saem de sua inteligência “animada”, saem de seu imenso amor pela terra natal. Nas páginas de O Amante das Amazonas há constante movimento. Há uma Floresta vibrante onde uma sutil música se espraia e os barulhos cotidianos quase se tornam reais (os ruídos da Floresta). Ali, os fatos vão acontecendo paulatinamente. O mesmo se revela quando a criatividade do ficcionista se volta para a cidade de seu nascimento: há movimento no Bar do Bacurau, “no início da João Coelho”, e, “proeminente, bêbado, apoiado no balcão”, Mestre Benito Botelho indagará ad infinitum (ou seja, enquanto houver um leitor incomodado) “o sumiço do filho de Pierre Bataillon no fundo da floresta amazônica”. Quanto a Conchita Del Carmen, esta personagem permanecerá repleta de vida (vida ficcional), comandando a Rua das Flores (enquanto a narrativa existir e houver leitores para oferecerem-lhe dinamismo supravital). Os conflitos entre os espaços sócio-substancial e mítico-substancial se revelam assim em toda a sua grandeza e movimento diante do leitor. O Manixi rogeliano é o lugar da contenda. A Cidade de Manaus, também. Ali (Floresta versus Cidade) os dois espaços (o social e o mítico) se unem e se digladiam (se digladiarão permanentemente nas três dimensões desta incomum ficção, ou seja, nas dimensões da arte ficcional). Ali dois poderes se enfrentam.
MACHADO, Neuza. O Fogo da Labareda da Serpente: Sobre O Amante das Amazonas de Rogel Samuel.
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