segunda-feira, 7 de julho de 2008

Música do ar



Rogel Samuel


Armando Freitas Filho é um extraordinário poeta como se pode ler neste seu poema compacto, composto na metafísica das madeiras, mas nada daquilo que na orquestra se chama de som delicado, suave e bucólico: as madeiras compostas por Flautas, Clarinetas, Oboés e Fagotes, mas nem violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, harpas, sopros, flautas, clarinetas, oboés, fagotes, ou seja, música, música de árvores, nada disso, mas o bater do machado bruto, áspero, cortador, pancada de estaca, ou bate-estaca, no crescimento da cidade de concreto em direção estelar:
AR

Música de árvores.
Não a das folhas e ramos.
Mas a outra, para percussão solo.
Madeira, raízes, cascas, nós, galhos.
Tudo que pede machado, corte, pancada.
O que é duro - áspero - bate, e estaca.
O que estala e cresce da terra contra as estrelas.

Armando Freitas Filho, “Cabeça de homem”, Editora Nova Fronteira, 1991

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