quarta-feira, 9 de julho de 2008

Recife


Rogel Samuel

Notícias de Recife por mensagens de email. Minha amiga se encontrou com alguém, etc. É uma amizade recente. O Recife é uma vaga lembrança na memória. Por trás da casa estava a praia velha, onde uns poucos barcos dormiam e uns muros caiados me falavam de João Cabral. Depois de uma reta, a subida bem suave para chegar a Olinda, de onde o mar ao luar transparecia como uma toalha de luminosa seda branca. Naquela noite, alguns bares abertos e um vento que vinha do mar batia nos sinos da igreja e pediam perdão. O mundo se apagava no fim da rua e novos cânticos subiam até nós que comemorávamos o fim de um grande enredo que terminou no final do Leblon. Entre o alto de Olinda e o final do Leblon há uma ponte invisível que registra uma história secreta que vai terminar em Frankfurt, na Alemanha. Ainda contarei essa novela e dez capítulos e dez soluços perdidos no tempo em que se ouviam os sinos assobiar no limo do veludo que vinha do oceano distante, no vento que nos vinha salgar, nos ventos que ouviram nossos últimos suspiros e nossas últimas falas de um amor abafado. O Recife assistiu a tudo aquilo. O Recife de pedra suportou tudo. Pode ser que tenhamos vivido aqueles dias em vão, que não era preciso tanto sofrimento. Mas a angústia acumplicia o amante como sua sombra. Minha nova amiga de Recife nem sabe em que solo sagrado está pisando hoje, quando lá deixamos o rastro quase sangrento de nós mesmos.

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