terça-feira, 15 de julho de 2008

A praia de Matthew Arnold



Rogel Samuel

Matthew Arnold é um poeta inglês (1822-1888) que, junto de Tennyson e Robert Browning é um dos chamados autores vitorianos. Também foi pioneiro na crítica literária e da sociedade, considerado o primeiro moderno. Influenciou gente como Eliot e Allen Tate, e inaugurou a crítica sociológica. Como poeta, alguns o consideram o maior de sua geração. A sua visão de mundo é pessimista e sua poesia triste, cinzenta, como sua famosa “Praia de Dover”, de que transcrevemos parte:

O Mar da Fé
Também existiu, no passado, cheio, e em volta da praia do mundo
Estendia-se como as dobras de uma faixa desdobrada.
Agora, porém, somente lhe escuto
O bramido melancólico, longo, fugidio,
Que se aparta para as lufadas
Do vento noturno, escorrendo por vastas e horrendas costas
E pelos areais desnudos do mundo.”

“Ah!, amor, sejamos fiéis
Um ao outro.
Pois o mundo, que parece
Estender-se à nossa frente como uma terra de sonhos,
Tão diversas, tão formosas, tão novas,
Na verdade não tem nem alegria, nem amor, nem luz,
Nem certeza, nem paz, nem lenitivo para a dor;
E estamos aqui como numa planície penumbrosa,
Varrida de confusos alarmas de combate e de fuga,
Na qual exércitos ignorantes à noite travam batalha.”

O mundo que ali aparece é o nosso, em guerra, em destruição e guerra, varrido de balas e alarmes de combate, o mundo escuro, onde exércitos combatem às cegas, - o que parece uma terra de sonhos na verdade não tem luz. Há um vento escuro, na orla da praia, o ambiente é sinistro e deserto, estranho para um poema de amor. Este contraste é o que faz desse fragmento de poema um marco, o amor enquanto desastre, ou melhor, o amar no desastre entre as trincheiras da guerra!
Dá para lembrar “Waste Land” de Eliot, ou o seu famoso poema “A CANÇÃO DE AMOR DE J. ALFRED PRUFROCK”.

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