sexta-feira, 25 de julho de 2008

Pela cidade



Rogel Samuel

Caminho pela calçada. Atravesso a rua. Desço no Metrô. Todo Metrô se
parece. O do Rio não é triste. Nem lúgubre, como o de Paris. Parece o de
Frankfurt. No percurso encontro meu amigo H. Não o via há anos. Físico e
filósofo, ex-companheiro da FNFi. Estudamos juntos, depois trabalhamos
num Colégio Estadual. "Tenho traduzido a Metafísica de
Aristóteles do grego", ele diz. É verdade. Professor aposentado. Mal
vestido. Mal-tratado. Vive da aposentadoria. Sempre foi assim. Nunca
conseguiu uma conexão prática com a vida. Por isso penso como eram bons
os antigos mecenas. Há gênios que não podem viver sem mecenas. Meu
amigo foi um deles. Conversamos sobre Kant. Ele lê
Kant em alemão, Gorki em russo, etc. Nunca soube ganhar dinheiro. Anda
feito mendigo. Conheci muita gente assim, na minha geração. Um dia,
encontrei Anísio Teixeira e me dirigi a ele, pensando que fosse o
porteiro da Faculdade. Foi a primeira pessoa que encontrei, no Rio.
Anísio foi meu professor de Filosofia da Educação. O único professor
que, após as aulas, recebia palmas na classe. Nunca vi isso nem antes
nem depois. A última aula, já cassado, foi sobre o conceito de liberdade
na educação. Naquela faculdade assisti a Álvaro Vieira Pinto. Havia
efervescência cultural para a vida, na minha geração. Mas o mundo em que
vivíamos desapareceu em 64.

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